quarta-feira, 30 de junho de 2010



Gostava TANTO de ter uma casinha no Castelo..
Podia ser esta, que é linda, linda, linda e tem o tamanho ideal.
É triste não se ter acesso a uma coisa tão básica para edificar uma vida, como uma simples casa.

As vezes que eu não me sentaria no chão, cruzaria as pernas, deitaria a olhar para o tecto em branco a respirar fundo, faria o pino à parede de calções curtos (fica prometido), rebolaria sobre as coisas todas desarrumadas, dormiria no colchão no chão, na primeira noite, na segunda e na terceira, altura em que já  apeteceria uma cama pequena, os beijos que não daria aos vidros das janelas e encostada aos vidros das janelas. Neste caso, o sofá seria, sem dúvida, "a melhor peça da mobília".
Isto de gostar de alguém, é um absurdo e nós, somos os campeões. Até quando estou ao teu lado tenho saudades de ti, dizem neste momento, na TV.

(dispensava, naturalmente, o penduricalho para o boxe)


Eu até nem desgosto de futebol, tal como não desgosto de telenovelas, de programas da tarde ou da manhã da tvi e da sic, do Manuel Luís Goucha ou do João Baião. Acho piada à rubrica do Nilton "Eu amo você", gosto de programas de apanhados, sei quem é a Lucinha Lins, a Deborah Seco (e sei que se escreve com h), tenho televisão, gosto de televisão, não me provoca asco, não me arrepia deixar de sintonizar a TV2 e ter de ver o "Derrubem a parede" e por acaso, já li umas coisas giras, outras deixei a meio, gosto de algumas músicas, gosto de R&B, gosto das séries "femininas", gosto de roupa, folheio revistas de moda, olho para a capa das revistas "masculinas" e entre isto tudo, acho muito aborrecido que aconteça com algumas pessoas, a repulsa (sem a lebre sexual nas mãos da Deneuve - piada óbvia só para os muito muito intelectuais) ao oposto.
E sinto um certo orgulho nisto, porque de facto, honestamente, não sinto que deva existir qualquer incompatibilidade, entre o acto de ler cinco páginas de um clássico da  literatura (ou de um menos clássico) ou acabar de ver "La Notte" (magnífico Antonioni) e em seguida, ir ver o capítulo da novela das seis. Na minha cabeça, sempre houve espaço para quase tudo. Ainda que não tenha experimentado quase tudo, por estes lados, as coisas vão acontecendo mais ou menos assim.

E compreendo que alguém que leia Heidegger, diga que entendeu tudo. Porque há coisas que estão nos livros, que a vida nos dá (concordamos todos, por certo). Mas há outras que a vida não nos dá, porque ter tudo e ver tudo, é de mais para nós. E é aí que entram os outros. Os que paralelamente a nós, foram vivendo, recebendo, experienciando essas coisas, enquanto nós, vivíamos outras. Portanto, na prática, há de facto leituras que fazemos do Heidegger e do Kant, do Fiódor e do Vian, que não entendemos, mas que pensamos entender, porque ilusoriamente, sentimos que estamos no mundo a viver todas as coisas ao mesmo tempo. E não estamos. E ter experiências, é também estudar as coisas, dedicar-lhes tempo, ler o que muitos outros escreveram sobre elas e não precipitar as certezas sobre a nossa profundidade, numa compreensão gramatical trompe`oeil.
Sempre achei profundamente pateta, atirar lama às coisas intelectualmente "menores". O professor mais espantoso que tive, o mais surpreendente, o mais profundo, o mais mágico, aquele que, a dado ponto, me espantou (começa aqui tudo, não é o que dizem?), era um adepto passional do benfica. Discutia, tinha opinião, falava dos lances, sabia os nomes dos jogadores, contrariava e ficava contrariado. E nisto, dois minutos depois, estava a olhar fixamente para a parede e a relembrar diálogos do "Der Himmel über Berlin". Parece-me que num professor universitário de filosofia, isto até fica bem, até tem graça. Se sou eu ou uma moça qualquer, é sinal de tontice, de superficialidade. Coitadinha, nós lemos tanto e ela tem um curso e é tão parvinha e até prefere o telejornal da tvi aos outros.. é mesmo burra! Pois eu continuo a achar que vale mais a pena fazer um curso do que não o fazer. Continuo a sentir algum orgulho em ter feito o curso que escolhi, ter ido a todas as aulas e tê-lo feito, sem ficar os cinco anos de rabo sentado em frente aos livros.
Alguém dizia o outro dia que continuar é muito mais difícil do que desistir. E pensando bem, é a verdade.

Quem desiste do curso, desiste porque não consegue. É simples. Pode ser um ás fora da academia, pode pintar maravilhosamente bem, ler, escrever e pontuar de forma jubilosa, aguentar-se em pontas uma eternidade, mas na verdade, a capacidade que tem, não alcança a exigência técnica do especialista sobre a matéria. E ponto final. Porque fazer um curso, não é só ter perícia sobre os rascunhos das folhas de papel, mas é ter perícia social, perícia pessoal, perícia física, psicológica. E a inteligência, passa também por aqui. A matéria é quase um bónus. E digo isto, porque ando cansada de quase ter de me desculpar por ter feito um curso e ter duas pós-graduações. Estou cansada de me sentir mal, quando as pessoas dizem "desisti porque a faculdade é uma fantochada". Porque a verdade é que desistiram por elas, porque não foram capazes, não pela faculdade. Ninguém desiste por causa de um espaço, de um edifício, de um refeitório, de uma sala sem aquecimento, de um professor difícil. E eu não tenho culpa de ter conseguido fazer tudo. E ter feito mais. Ando cansada de quase me ver obrigada a dizer que tenho pena de ter feito um curso, que se fosse agora, não o faria. Acho mesmo que já o disse. E isto não é a verdade. E acho desonesto, porque um curso dá muito mais trabalho a fazer do que ficar oito horas em pé numa loja, do que ler as obras completas de um qualquer autor, do que ficar a falar mal do sistema, das faculdades, dos alunos, dos professores, metido de cabeça baixa num call center.

Se é opção desistir, se morre o pai ou o irmão, se morre o amor, se perde uma perna, paciência. Os traumas e psicologias baratas sobre a máfia que a universidade representa, sobre a prostituição intelectual das avaliações, já enjoa. Conversas sobre os coitadinhos dos universitários, que são mais burros do que todos os outros, começa a fazer-me rir e qualquer dia, regresso ao registo Ana cara-de-poucos-amigos e respondo. Começo a responder, porque começo a achar ridículo o universo dos “não-universitários”, dos “orgulhosamente-não-estudámos-porque-somos-mais-inteligentes” (orgulhosamente sós, recordam?).
Eu já tive uma universitária a corrigir-me a pontuação e uma não universitária a corrigir-me a pontuação. E a que estava certa, era a universitária. E já tive uma universitária a corrigir a pontuação aos textos de uma não universitária e quem estava a escrever bem e a pontuar mal, era a última. Já tive um gaiato de rastas no cabelo a corrigir-me a palavra mestrado. E afinal, não há qualquer regra para abrir ou fechar o "e". E ainda acredito mais no que estudou linguística do que no que não a estudou. O mais estúpido, é que chegámos a um ponto em que os homens com rastas na cabeça e feios e as mulheres, fisicamente pouco apelativas ou normais, que não querem saber de maquilhagem, de usar salto, que não se ralam com a celulite, fazem mais facilmente "prova intelectual", do que um tipo de fato, que seja giro e se engane a escrever de vez em quando ou de uma mulher boa, que se perfume, use uma base caríssima, unhas de gel, lentes de contacto azuis e silicone nas mamas. E isto é tão falso, tão enganador, que só mesmo ver os exemplares das respectivas espécies, a falar uns dos outros, para gargalhar à farta.
Parece-me bem que ninguém faça cursos, que toda a gente vá viajar com rastas penduradas pelo cabelo e pais a pagar essas incursões que depois saltam aos olhos dos outros, como grandes aventuras independentes, que se considere que há coisas que estão mal, que a universidade não dá moral, nem ética, não te torna numa mulher ou um homem mais atraente, falha quase a 100% na sua função pedagógica, mas a verdade é que, tal como um casamento falhado proporciona, mal ou bem, momentos muito felizes, um curso, dá aquilo que quiseres que ele te dê. E aventura a sério, é ter de encerar o chão dos outros todos os dias, para pagar as propinas ao filho(a) chulo(a) que acha que só deve começar a trabalhar quando acabar o curso e tiver um carro. Ou pior: teres de encerar o chão da casa dos outros, para pagares as tuas propinas, do teu curso.
Isto para dizer, que apesar de achar incrível ter um país inteiro a definhar de medo em relação ao futuro e uma juventude sem perspectivas a glorificar o futebol, compreendo perfeitamente que se ache alguma graça ao mundial, que se vibre e chore com sete golos, que se discuta, se fique indignado, porque a manifestação é exactamente igual à que transparece do concerto da banda de música, ou do filme de que se gosta ou do parágrafo final do livro, ou do beijo esperado. A manifestação é exactamente igual à que acontece quando existe uma relação de algo para algo.

E também acho bem que o Ronaldo tenha cuspido para a câmara ou simulado que o fazia. Estava triste. E eu, quando estou triste, também tenho vontade de cuspir. E depois, foi um cuspir simbólico e no que diz respeito a símbolos, tudo deve ser permitido. Porque o universo dos símbolos é como as quatro paredes de um quarto.

E por hoje, chega de conversa.

terça-feira, 29 de junho de 2010


"Abrigo para borboletas, com aquecimento por radiação solar para permitir o aquecimento em dias frios ou mais rápido de manhã"

Acho simplesmente inacreditável que as burguesinhas das borboletas tenham direito a coisas destas. É angustiante assistir a isto sem poder extinguir a raça.
Porque eu choro em cada episódio do Sexo e da Cidade.

Decidi-me ao perdão.

Perdoo a Célia, por apenas se lembrar de mim, quando eu me lembro dela. Por me conhecer há 30 anos e não me ter perguntado nunca como estou, por não me ter perguntado nunca, como correu uma frequência, por não me ter feito sentir nunca, que lhe podia contar qualquer coisa mais, além das conversas rotineiras entre conhecidas, por me ter visitado uma única vez nos inúmeros trabalhos que tive, por ter ido sempre acompanhada, por não ter sido capaz de ir ter comigo sozinha, por mim, para me ver. Por nunca me ter convidado para ir ao cinema, por nunca me ter mostrado uma música que gostasse. Por ter ignorado a fita de fim de curso em que me desfiz em simbologia sobre a nossa infância e que ela resumiu a uma única palavra, sem grande ímpeto. Perdoo-lhe, por eu ter de escrever isto e saber que são coisas que nunca lhe irei dizer e que ela nunca irá ler. Perdoo-me a mim, por sentir tudo isto e ainda assim, saber que não haverá uma única pessoa no mundo que responda a um pedido meu, sem perguntas, sem obstáculos, sem problemas, sem entraves, que não seja ela. E isto, é quase de mãe. E perdoo-me, porque se calhar fui eu que tantas vezes a fiz sentir-se mal, por ser sempre eu a falar muito e ela tão pouco, por eu ter sempre tanta opinião sobre as coisas e ela nunca manifestar a dela. E perdoo-lhe por ela não ter percebido que, muitas das vezes, a minha opinião vincada, era uma forma de a puxar até mim, de lhe pedir que me conhecesse, sem que fossem precisas muitas palavras.

Perdoo a Inês, por ter preferido tantas e tantas vezes, a companhia do Pedro à minha ou ter tido sempre mais espaço para o beijar, do que para conversar comigo.

Perdoo a Joana, por nos termos afastado de forma tão magoada. Perdoo-lhe por chamar preta à Patrícia, nas aulas de história do liceu, por falar mal do Francisco, sabendo que eu gostava dele, por arranjar um namorado burro, feio e mal-educado e ter casado com ele. Por se achar sempre tão fantástica mas ter sido sempre para mim, que as pessoas olhavam e não para ela. E perdoei-lhe, chamando-a. Arranjando uma forma, há uns meses, de a trazer até mim. Era talvez, a situação mais mal resolvida que tinha, que não esquecia, que não sossegava. Nada de romances desfeitos, amores impossíveis. Tinha sido uma amiga. E agora, passados tantos anos, desejava regressar a ela, regressar a nós e, sem grandes palavras, perdoar o nosso tempo. O tempo que nos juntou e o que nos afastou. Este ano, recebi uma mensagem de parabéns da Joana, mesmo a tempo, no tempo certo, no nosso tempo. E este ano, vou lembrar-me do 29 de Agosto também.

Perdoo a Patrícia, por ter sempre calado a todas as provocações da Joana e me ter deixado sempre ser eu a falar, tendo-me levado a pôr em causa, por ela, pelas lágrimas dela, um pedaço pequeno e importante, da minha vida na altura. Perdoo-lhe por eu ter saído a chorar de uma aula, revoltada, por coisas que lhe eram dirigidas e isso não lhe ter dado força suficiente para combater, sozinha, tudo isso. Foi a primeira vez que fiquei triste com as pessoas. Que entendi que a amiga ideal, não era assim tão perfeita e que a amiga-vítima, queria ser vítima. E a partir dalí, calar, foi sempre mais difícil para mim, do que falar.

Perdoo a Catarina, por não me ter reservado o livro do Pessoa, depois de a (re)lembrar 5 vezes no mesmo dia, de forma teimosa, insistente e aborrecida quando, na verdade, sei bem que sendo um certo rapaz ou outra certa rapariga, ou um rapaz qualquer ou mesmo uma rapariga qualquer, a memória ter-se-ia accionado, através de outra qualquer substância que às vezes, se mistura às coisas, determinando-as. Porque temos tentáculos, quando queremos.

Perdoo o Nuno, por num golpe de maldade, ter comentado uma vez, em plena Avenida de Berna, “o quê, os gordos também têm orgasmos?” e ter feito, com este pedacinho de gramática, desfalecer lentamente, toda a simpatia humana e algo mais que por ele nutria e isto ter sido tão estranho e tão suficiente para eu nunca mais olhar para aquela pessoa, da mesma forma, que me assustou. O poder daquela pequeníssima revelação se alastrar por todo um universo cor-de-rosa.

Perdoo ao professor que nega dizer o que me disse e me deixa desarmada para qualquer tipo de argumentação, porque ele nunca gostou de mim, porque me diz que sou demasiado centrada a falar (seja lá o que isto for), porque me disse, em tempos, que eu nunca poderia ter as notas dos alunos de história, porque não sou de história. Porque gostaria agora ele de mim? Agora, que me dá, daquelas notas que se dão só aos alunos de história?

Perdoo a mãe, por não perceber absolutamente tudo, todas as coisas, todos os dias, todos os minutos, para a vida toda.

Perdoo a rapariga da farmácia que me recomendou há uma semana, um protector solar anti-alérgico que me está a provocar o maior ataque que alguma vez tive e me deixou a cara cheia de pequenas borbulhas vermelhas. E perdoo, porque ela foi tão gentil e me deu um sorriso tão simpático, que não posso culpá-la por uma coisa que o meu corpo determinou que não quer. E certo, é o que o corpo permite e aceita. E a minha cabeça diz ao corpo que precisa de protecção e o corpo diz que não.

Perdoo-me por não conseguir dormir uma noite inteira seguida sem acordar a sonhar ou a pensar. Perdoou-me por às vezes ser má, e fazer notar, à mulher que vai em pé no autocarro, encostada a mim, que a mala dela me incomoda no braço. Que compreendo que o autocarro vá cheio, mas, por favor não me toquem no braço. Não me consigo perdoar ainda, que no Natal de 1993, tenha respondido mal, ao rapaz da Cais na estação da Amadora. Mas quando me lembro, espero sempre que ele esteja bem, que é uma forma egoísta, de ir fazendo por me perdoar.

Perdoo-me por ter a vacina do meu cão atrasada quase um ano.

Perdoo-me por tomar sempre mais um comprimido do que a dose recomendada.

Perdoo-me pelas coisas em que os outros nunca repararam, pelos momentos dos outros que não consegui salvar, pelos momentos dos outros em que eu não reparei, em que consegui estar lá.

Perdoo-me por escrever e falar sempre tanto, quando às vezes penso que o meu falar, é uma forma torcida de não ter de dizer absolutamente nada daquilo que tenho para dizer.

Perdoou-me por ir ver, esta noite, pela milésima vez, esse filme sem sentido que é o “infiel”. E perdoou-me por, da primeira vez, ter gostado.



E em todos estes momentos (exemplos), tive uma vontade tremenda de chorar.

E às vezes, até me sinto bem em ter os olhos vermelhos e inchados, porque significa que eu não aspiro a nada, que não espero do mundo, nada que o transcenda, não exijo das pessoas, mais do que elas me dão e que basta. E acontece que esse bastar é muito mais do que aquilo que eu pensaria que fosse. Foi sendo aos poucos, muito. E bastando.


P.s. Só não consigo perdoar ainda, a rapariga embirrante com quem sou obrigada a almoçar todos os dias, que nitidamente me detesta ou nutre qualquer sentimento desagradável em relação a mim, e que me tem conduzindo, por diversas vezes, a quase cair na minha própria armadilha: a palavra. Porque não se podem deitar por terra, trinta anos de universo feminino e isto de sermos todas amiguinhas umas das outras, não existe. Tal como o perdão.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Um dia perco a cabeça e vou fazer uma daquelas massagens com calhaus. Perdão, com pedras holísticas.
Dizem que atingimos o estado alfa. Os psicólogos chamam-lhe o "estado de fluxo", uma sincronização mental. Se os psicólogos dizem, só temos mesmo é de seguir.

sábado, 26 de junho de 2010

Rever o Alfie também serviu para relembrar que as maminhas da Sienna Miller são pequenas, o que só abona a favor dela. E também por esta música, muito sensual.



I'll we'll need is candle lights

And a song
yeah
Soft and long
Magnífica Ellen Burstyn
Requiem for a Dream

Há muito que pensava em revê-lo. Filme fabuloso, que traduz com inteligência suprema, a forma como o corpo sucumbe à cabeça, de forma gratuita e sem perdão. Música demolidora.
Às 3 da manhã de ontem, reparei numa coisa, que não tinha visto da primeira vez. Reparar nisto, só à segunda vez, não merece perdão. No final, todas as personagens regressam a um começo, fechando-se em posição fetal.

Darren Aronofsky, por Requiem for a Dream ou o Peter Greenaway, por A zed & two noughts. Dois filmes que podiam ter resultado numa grandessíssima trampa mas sairam geniais.


Roads

Nunca achei especial graça aos Portishead. Ouvi tudo e continuei a não achar grande graça.
Esta, foi sempre genial.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Todo o homem mata aquilo que ama

Vivo obcecada com este filme e não compreendo porquê. Detestei-o, achei-o desonesto. Tudo ali é desnecessário. Todos os elos, todas as relações, todos os diálogos, todos os encontros. E no entanto, de vez em quando, lembro-me dele e lembro-me que bateu com alguma força na minha cabeça, não me tendo feito pensar sobre nada em particular. Talvez comigo e com este filme, se passe o que dizia eu há dias, passar-se, entre as pessoas e o closer. Talvez se passe, que eu lhe reconheça algumas nuances, algumas entrelinhas, alguns odores, que no fundo, o perceba e por isso, o rejeite (relação adolescente-maldita, entre as pessoas e os objectos).

A dúvida mais básica é: porque se casou o pastel do rapaz com a tipa chatinha, se conheceu a scarlett primeiro? E porque lê o pastel do rapaz o "Crime e Castigo", se era óbvio que ele só podia estar a ler o "Crime e Castigo". E porque é que fazem desse doce, um presságio ao final?
Para comprovar o enjoativo cliché da coisa, deixo a prova de que no caso dos filmes (vou tentar salvar a conversa sobre o resto), os inícios, já dizem tudo.


A nossa sociedade é como os porcos. Ou seja, os porcos quando estão sãos, comem todos na mesma gamela, quando há um que está ferido, até dentadas lhe dão para ele não comer.


(Da reportagem da TSF, "À mesa com a crise", disponível em http://www.tsf.pt/paginainicial/AudioeVideo.aspx?content_id=1419713)


Descobri dois bichos novos, logo de manhã.
Um muito feio e outro muito lindo. Beared pig e..unicórnio do mar.
Primeiro pensamento do dia, ao observar o meu cão, metido dentro dos meus lençóis, a olhar, deslumbrado, para mim. Tenho por ele, um amor-cão! Iñárritu!

quinta-feira, 24 de junho de 2010



Hoje, pela primeira ou segunda vez na vida, tive uma atitude de que me orgulho. Ponderei e suspeitei de mim. Ora, tendo concorrido há cerca de oito meses a um concurso público para a minha licenciatura, e tendo em conta a reduzida e simpática bibliografia obrigatória para a prestação de provas, dediquei-me com algum afinco, calma, tempo. Suspeitei da facilidade da coisa, mas continuo a acreditar em tudo da mesma forma que acreditava, quando não percebia absolutamente nada de função pública, concursos, vínculos e contratos e por isso, fui esperando, esperando até que, a coisa do congelamento socrático precipitou o lanaçamento das listas e eis que, eu não estava lá. Mas não estava lá de nenhuma forma. nem admitida, nem excluída. E dentro do prazo de exclusão, também não recebera nenhuma carta. Dias depois, lançam pautas com avaliação de conhecimentos e psicológica. Ora, se já tinham decorrido os testes e eu não tinha sido, nem exluída, nem chamada, algo deveria ir mal no reino da câmara de Almada. Ainda assim, curiosamente, comecei a suspeitar de mim e não da câmara. E a novidade, começa toda aqui. Eu suspeitei primeiro de mim, dos meus olhos, da minha cabeça, de qualquer coisa que, ainda sem investigar a sério, adivinhei ter vindo de um erro meu. Dias depois dos dias depois, recebo finalmente uma cartinha, manifestando a minha exclusão, por não possuir o bendito vínculo à função pública. Eu, que li mil vezes o Diário da República, porque andava encantada com o concurso e com a facilidade da sua bibliografia e exigência de conhecimentos específicos, fui reler tudo novamente. Diário, bolsa de emprego público, anúncio, tudo. E, ainda assim, não detectei nada anormal. Nisto, decidi ligar a barafustar. Pensei logo: vou barafustar muito muito muito e com linguagem muito colocada. Mas não liguei. Além de suspeitar de mim, não me precipitei, não barafustei. Ao contrário, aceitei no desconhecido, sem justificação nenhuma, que aquilo da exclusão era para mim e era certo. Mesmo sem perceber, porquê. Hoje, sem preguiça, resolvi silenciar tudo à minha volta e com uma atenção excepcional, reler tudo novamente. Eis que, estava ali, à minha frente, claro como água, transparente, a prova. O procedimento concursal exigia vínculo mas, misturado com mais cinco procedimentos que não o exigiam e representado unicamente pelas letras AW, no meio de AV, Q, WR, PE e afins, dei por certo que aquele, me seria permitido. Fiquei contente porque, por momentos, pensei que a aldrabice destas coisas tivesse chegado a um ponto de descaramento tal, que já nem véu tivesse a cobrir. E pronto, tal como na faculdade, fiz a proeza de precipitadamente, ver e responder a duas questões, quando o enunciado ditava apenas uma, desta vez, andei meio ano a ler o plano anual da Câmara de Almada. O interessante deste fenómento de recrutamento, é mesmo o sentimento que me conduziu a achar que o que estava mal em tudo isto, ou era eu ou vinha de mim. Começo a desconfiar que sou fonte de demasiadas coisas.
QUERO PARA MIM!!
QUERO, QUERO, QUERO, QUERO!


sexy and calming


Eu sempre estive nu. Na Academia de Acordeão Regina tocando La Cumparsita, eu estava nu. Eu só sabia que estava nu, e ao lado ficava o camarim cheio de roupas coloridas, roupas de astronauta, pirata, guerrilheiro. E eu, do mais pobre da minha nudez, queria vestir todas. Todas, para não trair minha nudez. Mas eles gostam de uniformes, admitiriam até a minha nudez, contanto que depois pudessem me esfolar e estender a minha pele no meio da praça como se fosse uma bandeira, um guarda-chuva contra o amor, contra os Beatles, contra os Mutantes. Não há guarda-chuva contra Caetano Veloso, Guilherme Araújo, Rogério Duarte, Rogério Duprat, Dirceu, Torquato Neto, Gilberto Gil, contra o câncer, contra a nudez. Eu sempre estive nu. Minha nudez Raios X varava os zuartes, as camisas listradas. E esta vida não está sopa e eu pergunto: com que roupa eu vou pro samba que você me convidou? Qual a fantasia que eles vão me pedir que eu vista para tolerar meu corpo nu? Vou andar até explodir colorido. O negro é a soma de todas as cores. A nudez é a soma de todas as roupas.

Gilberto Gil.

We touch too much


Sempre me maçaram com a coisa de eu achar mais graça ao Caetano do que ao Chico.
Eu digo sempre que é por causa da dança dos braços dele. Agora, é por causa dos braços e do get out of town.

(isto, porque de há três semanas para cá, só ouço get out of town)



Ontem, estava a ouvir a conversa de uma rapariga, uns 35 talvez, presumo que com o marido, sobre a sopa para o jantar. Temos cenoura e isto e aquilo e dá para uma "base". Aquele tópico caiu-me com algum desagrado. Eu, que até gosto de sopa. Aproximei-me mais, para conseguir entender que outros legumes colocaria ela na sopa e que outros pormenores haveria mais para acrescentar ao diálogo. Dizia não me apetece estar agora em filas no supermercado. Vê lá o que temos no frigorífico.
Quando entrei no combóio, sentei-me propositadamente à frente dela, para olhar. Comecei a imaginá-la a fazer a sopa. E comecei a imaginar que contributo teria o tal marido, nessa sopa. Se aquela conversa de estação faria algum sentido para ele, se lhe apetecia a ela fazer essa sopa e pior, conversar durante 15 minutos ao telefone sobre os legumes (todos os dias iguais), para pôr na dita.
Tinha já algumas rugas de expressão em torno dos lábios e na testa, mas possuía ainda, pequenas frescuras de jovem. O cabelo descuidado, alguma barriga, pouco peito, as ancas para o largo, uma mala muito feia, uma aliança no dedo e um dia inteiro, digo eu, de escritório.
E pensei: tanta gente, a fazer tanta sopa tantos dias seguidos. Serão todos felizes quando a provam?

Hoje, no autocarro, um homem para uma mulher: Tudo chega. O bem e o mal.

É por estas e por outras, que não penso em largar os transportes públicos.
Os grandes clássicos, andam por aqui, no meio de nós.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Descobri hoje, que o sitio onde brinquei tantas e tantas vezes, no Alentejo, se chama Horto do Poço d`Além. Justo, justíssimo.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Nunca uso os três pontos

..
Everyone wonders

How we stay in love
And I tell them
That it's hell when it's bad
But it's good
Good
Good when it's good
..
Agora que me encontro a fazer um trabalho sobre as Minas de Aljustrel, penso que pena profunda sinto, por não ter lá ficado lá, nada meu. Nada físico, a que possa regressar. Uma casa, aquela casa. Pensar que nunca mais verei isto. Uma cegonha no ninho. Vi-as ao longe e sempre achei que eram diferentes, porque estavam sempre tão longe, porque estavam sempre naqueles ninhos grandes e escolhiam sempre sitios nossos, chaminés, para fazer essas coisas estranhas e grandes. Depois, contavam-se muitas histórias sobre cegonhas. Ficam tantas cicatrizes em coisas destas que não entendo como podem ficar depositadas mágoas, em coisas boas. Como pedem para ser lambidas, feridas que não o são, que magoam de uma forma diferente, que magoam, mantendo-se impunes.
E nisto, sinto que não conseguirei falar nunca mais de nenhum lugar, como daquele, de que falo com os olhos que não sei como, conseguiram também, ali, pensar.

Primeiro sonho dos 30



Não esperava muito da minha primeira noite com trinta. Mas não esperava isto.

Tive um sonho. Sempre sonhei com combóios, não no sentido psicanalítico da coisa. Não vejo os meus combóios a entrar por túneis escuros e profundos. Eu espero os combóios na estação. A estação de Queluz, a antiga, é sempre a estação antiga e eu avanço sempre, como na..realidade (?), até ao fundo da estação. Hoje, estava lá outra vez, esperava o combóio. Sozinha. E o que vejo sempre, de forma clara e forte, são os carris. Carris que se cruzam, linhas. Na linha, estava uma mulher, alta e que eu sabia ser muda e cega à espera da morte. A mulher ia suicidar-se. Absolutamente perturbador. Quase vergonhoso sonhar com um cenário destes. Obsceno. Lembro-me que ela vacilava, numa espécie de dança vertiginosa, por não ver e ouvir e ninguém lhe conseguiu tocar. O combóio aproximava-se, ela parecia ser mais alta que nós, a perspectiva da estação, do lado da plataforma de embarque (como lhe chama hoje), era diferente. Ela tinha um corpo grande. Alguns lançaram-lhe a mão, nós (do fundo da estação), voltámos as costas. É tão desconfortável lembrar-me disto. Que avancei mais uns passos e senti de forma tão real, que ia acontecer. Que desta vez, ia mesmo acontecer. Sempre que sonho com combóios, sonho com morte. É sempre um acidente, um suspense mortal que se encontra envolvido. E aconteceu. Aconteceu que virámos todos as costas e o combóio chegou. Ela não morreu. Eu entrei no combóio. No meio da multidão, das pressas, das fugas, estava um bocado do corpo dela. Dentro do combóio. Lembro-me de ver um pedaço de carne e sentir um cheiro nauseabundo e pensar que estava a sonhar e que aquilo nunca me tinha acontecido. Sentir o cheiro de alguma coisa. E na altura, pensei que só podia ser o odor da imagem, porque sabia que nunca tinha sentido aquilo antes. De alguma forma, soube que era um pedaço de carne dela. Um pedaço de carne da anca dessa mulher. Depois? O vazio. Absolutamente mais nada. Acordei.

Ai Dalí, Dalí, o que me dirias tu?

domingo, 20 de junho de 2010

Sim, o garfield nasceu dia 19 de Junho.

sábado, 19 de junho de 2010

Meia-noite e um

Finalmente, a maioridade.
Esta noite vou dormir com trinta.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

I'll find a place somewhere in the corner

I'm gonna waste the rest of my days
Just watching patiently from the window
Just waiting seasons change, some day
Oh, oh, my dreams will pull you through that garden gate.

I want to be the wandering sailor
We're silhouettes by the light of the moon
I sit playing solitaire by the window
Just waiting seasons change, ah, ah
You'll see, one day, these dreams will pull you through my door
And I'll come running to tie your shoe
And I'll come running to tie your shoe.

Brian Eno
I`ll come running ( to tie your shoe)


Get out of town
Cole Porter


Get out of town

Before it's too late my love
Get out of town
Be good to me please
Why wish me harm
Why not retire to a farm
And be contented to charm
The birds off the trees

Just disappear
I care for you much too much
And when you're near, close to me dear
We touch too much

The thrill when we meet is so bittersweet
That darling, it's getting me down
So on your mark get set
Get out of town

quinta-feira, 17 de junho de 2010


Estou a tratar um livro com o título "What it means to be 98% chimpanzee". Ora, pensei cá para mim: bem, não será certamente o mesmo que ser 98% megan fox.
(por razões óbvias, excluo a foto dela).
Gosto da expressão acabámos a noite juntos.



Versão da música do Cave na voz de Alela Diane, dos Headless Heroes.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

linguística

Tenho sentido alguma dificuldade de comunicação com funcionários o que, lembrei-me agora, poderia constar de um qualquer conto do Tchékhov. Anteontem, dizia ao segurança da estação, a propósito do bloqueio da passagem: um senhor com um fato igual ao seu, disse-me o contrário. Diz-me ele: isto não é um fato, é uma farda. Depois, num autocarro: passa ao Colombo? Resposta: vai para o Colégio Militar! Eu: pois, pró colombo. Motorista: nós (não sei se terá dito "nós" humanos ou "nós homens parvos), nós dizemos Colégio Militar. Eu, já a reinar: pois, é a mesma coisa. Passa e pára no colombo, mesmo mesmo lá ao pé, em frente, é só atravessar uma estrada, não é? Ele riposta: não é bem no colombo, não há nenhum autocarro (reforço a visão que tive das mil paragens de autocarro em torno) que passe mesmo no colombo. Ok. Parei. A noção de espaço depois da abdução passa a ser diferente.
Hoje, reconhecendo uma música muito ao longe, dentro de uma loja, peço: por favor, poderá indicar-me o que está a passar? Os meninos, gentilmente ligaram para o dj e qualquer coisa interferiu na leitura do aparelho. Disseram: o nome do grupo é este Nants deirupe prive e o cd é  the lounge anthologie. Eu achei o nome demasiado comprido e demasiado desconhecido para a minha memória divinal, não provocar logo o clic do reconhecimento, uma vez que era disso que se tratava. Mas para não passar por aborrecida, insistente, chata, pensei que o google trataria de fazer a selecção, dizendo-me Será que quis dizer X?. Pois..mas não fez. Efectivamente e como eu esperava lá no fundo da minha esperança musical, o google não deu com nenhum grupo ou música chamada Nants deirupe prive. Na loja, ainda disse: será beirute? Mas..não, não, o meu colega está a dizer deirupe. Ok. O que vale é que recuperei bem a informação musical. Depois de correr umas três antologias de lounge (que procriam mais que os coelhos nos puffs), lá descobri.
Beirute, "Nants".





What melody will lead my lover from his bed?
What melody will see him in my arms again?



Acho alguma piada ao vocalista dos Beirut. Tem qualquer coisa de Ian Curtis e também tem uma tatuagem engraçada.



My death

Genial & fabuloso, como sempre.




My death waits like an old roué

so confident I'll go his way
whistle to him and the passing time...
My death waits like a bible truth
at the funeral of my youth
weep loud for that -
and the passing time...
My death waits like
a witch at night
as surely as our love is bright
let's not think about the passing time
But whatever lies behind the door
there is nothing much to do...
angel or devil, I don't care
for in front of that door...
there is you.
My death waits like a beggar blind
who sees the world through an unlit mind
throw him a dime
for the passing time...
My death waits there between your thighs
your cool fingers will close my eyes
lets think of that and the passing time
My death waits to allow my friends
a few good times before it ends
so let's drink to that and the passing time
But what ever lies behind the door,
there is nothing much to do
angel or devil I don't care
for in front of that door... there is you
My death waits there among the leaves
in magicians mysterious sleeves
rabbits and dogs and the passing time
my death waits there among the flowers
where the blackest shadow, blackest shadow cowers
let's pick lilacs for the passing time
My death waits there, in a double bed
sails of oblivion at my head
so pull up the sheets
against the passing time
But whatever lies behind the door
there is nothing much to do
angel or devil...i dont care
for in front of that door
there is...

Relembrada. Justamente.




ninguém a quem tenha mostrado esta música, lhe ligou peva. "Os outros são o inferno."

Planos às quatro da tarde da última quarta dos meus 29 anos: ter planos de cabelo curto às quatro da tarde da primeira quarta dos meu 30 anos.

Tulha (dia seguinte)

Tamara Lempicka
A mulher adormecida.








terça-feira, 15 de junho de 2010

Parece-me que, com este design, ou um hotel de beira de estrada ou uma secção de hematologia.
Banho, tchekhov, nestum e .. tulha.
É curioso o conforto que este frio de Inverno traz.
lembrei-me agora de duas expressões de criança, que a minha mãe usava:
Abre as pernas que é um tango (para me pôr o halibut no rabiosque) e tulha, referindo-se à cama, ao deitar.
É impressionante o que nós fazemos às mães..

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Upa

à chegada

Weather changes moods
(Nirvana)


Da imagem liberta ou da forma como a libertação da nudez nos conduz à tua espera.

Surges em seio, feita de luz. Teu cão diz que tu sabes que queres as coisas mas não as consegues despir, porque aos teus olhos, as coisas são o teu corpo, em pose universal. Ele debruça-se, em ondulações diurnas, sobre o teu joelho - o dorido, que viveu mais - e tu sabes que será sempre sobre esse joelho que a dor cairá em forma de prazer, através da cabeça do teu cão. Pintava-te entre pêlos de raças perigosas e rosnavas-me baixo enquanto pensavas na dor do teu joelho sobre as minhas costas. E essa dor lateja até agora na minha cabeça. Conspiraste a tempo de me minar com esse osso. Não sabes de nada. Apurar o faro, é para ti um prémio diário, por chegares ao mesmo tempo que os outros, às coisas deles. Voltares-te para mim, continua a ser exactamente o mesmo que virar a página de um livro. Envaideces-me de ganas.

Nocturama - Plano para uma curta-metragem

Resolvi trazer a Anna Blume`s para junto de nós..

After twenty seconds or so, he hears himself whisper a single word: Anna.
A feeling of overpowering love washes through him. An instant after thinking these thoughts, he is attacked by a fresh wave of guilt, and he knows that Anna is dead.

Maybe it`s a different Anna.
Time, Mr. Blank, Anna says.
You understand the meaning of time, don`t you? this is thirty-five years ago.
That was my crime.

Paul Auster
Travels in the Scriptorium

Na verdade, prefiro muito mais a insolência que os olhos revirados pelo pudor e pela devoção.
Tudo o que parece difícil e indispensável, chama-se bem, e o último recurso no perigo extremo, o que há de mais raro e difícil, chama-se sagrado.

Na verdade, confesso que sempre senti um impulso sexual pelo Nietzsche. Estive sempre convencidíssima que ele teria, como dizem as brasileiras, "uma boa pegada". Terei ficado demasiado impressionada com a coisa do eterno-retorno (com isto, acho que fiz uma piada ligeira). Mas sempre que penso no Kant, perco a pica.
A propósito:

Por que escapas furtivamente ao crepúsculo, Zaratustra? E que escondes com tanto cuidado debaixo da tua capa?

Closer



Acho uma enorrrme piada a que ninguém goste do Closer. Vi a primeira vez e fiquei a pensar. Achei-o verdadeiro, desprovido de coisas & coisinhas femininas para mostrar a verdade. Na certa, inocentemente, funciona tudo mais ou menos assim, salvo uns honrosos gatos pingados. De certa forma, o "ai e tal, tão mau que é" acaba por, ironicamente, denunciar aquilo que o filme revela. Ontem estava a dar na tv e tento sempre vê-lo na esperança de não conseguir entendê-lo. Melhor, tento sempre não conseguir entender que ele exista na cabeça dos outros. Engraçado ter reparado desta vez, numa coisa que me escapou. De entre a banda sonora, destaca-se a tal chacha de música "can take my eyes of you". Seguindo muito muito muito atentamente a letra desta música, assiste-se a um final simplesmente genial, o que em muito sustenta a essência do filme: " can't take my mind... My mind...my mind... Til I find somebody new". É de chorar a rir. Não se pode dizer que o moço não conseguiu o brilharete de fazer meio mundo andar a cantarolar e a fazer versões de uma música supostamente romântica, dedicada, nostálgica e que no fundo, nada mais é do que um pequeno cinismo à moda de todos os amores. A subtileza, a inteligência, foi metê-la dentro, bem encaixadinha, no soundtrack. A hipocrisia opinativa sobre este filme é aproximada à que considera que o Brown Bunny não devia acabar com uma cena "chocante" de sexo oral. Que a coisa devia passar antes por um jantar à luz das velas e por fazer amor em cima de lençóis lavados. Cá a mim, sempre me pareceu que tendo em conta a história ou a estória (há mais terminologias para narrativa?), o final, sendo diferente, tropeçaria com cem calcanhares sobre a realidade. Aquilo só podia acabar assim, não haveria qualquer outra forma de redenção, de perdão, que não aquela. De outra forma, só se entrassem numa igreja, a meio da missa.

Grades

domingo, 13 de junho de 2010

Hoje é o dia da gatunagem.
Mais um roubo. Não resisti.

«A minha cabeça tem o peso do mundo»






(de uma "aclamada" ilustradora. Parece que se chama Mariana, a Miserável)

Io Sono L`Amore

"Por vezes leva muito tempo (e dor) para descobrirmos que a verdade não reside numa resposta, mas numa pergunta."

Sublime.
esta rapariga é engraçada e chama-se Ana : )

(roubado à rapariga que podia ser eu). Algumas raparigas são todas iguais.


Coisas que não sou mas gostava de ser
Aventureira. Impulsiva. Extrovertida. Alta. Ambiciosa. Boa cozinheira. Disciplinada. Paciente. Meiga. Optimista. Crente. Poupada. Arrojada. Desinibida. Segura. Prestável. Constante. Simpática. Descomplicada.

20

o que eu gostava de ter uma casinha assim.
Eu quero um colo, um berço,um braço quente em torno ao meu pescoço, uma voz que cante baixo e pareça querer-me fazer chorar. Eu quero um calor no inverno, um extravio morno da minha consciência e depois sem som, um sonho calmo, um espaço enorme, como a lua rodando entre as estrelas.

Bernardo Soares
ou pessoazinho

An anatomical chart of love

"This depiction of the internal organs of the human body is taken from an advertisement for Paradison, a painkiller on display in the window of every pharmacy in Istanbul at the time, and i use it here to illustrate to the museum visitor where the agony of love first appeared, where it became most pronounced, and how far it spread. Let me explain to readers without access to our museum that the deepest pain was initially felt in the upper left-hand quadrant of my stomach. As the pain increased, it would, as the overlay indicates, radiate to the cavity between my lungs and my stomach. At that point its abdominal presence would no longer be confined to the left side, having spread to the right, felling rather as if a hot poker or a screwdriver were twisting into me. As the pain grew more pervasive and intense, i would feel it climb into my forehead, over the back of my neck, my shoulders, my entire body, even invading my dreams to take a smothering hold of me. Sometimes, as diagrammed, a star of pain would form, centered on my navel, shooting shafts of acid to my throat, and my mouth, and i feared it would throttle me. If i hit the wall with my hand, or did a few calisthenics, or otherwise pushed myself as an athlete does, i could briefly block the pain, but as its most muted i could still feel it like an intravenous drip entering my bloodstream, and it was always there in my stomach; that was its epicenter.
Despite all its tangible manifestations, i knew that the pain emanated from my mind, from my soul, but even so i could not bring myself to cleanse my mind and deliver myself from it. Inexperienced in such feeling, i was, like a proud young officer ambushed in his first command, forced into a mental rout."

Orham Pamuk
The Museum of Innocence

Sonho


sonhei que estava numa praia, muita gente, num fim de tarde ou num amanhecer, não estou certa. Eu estava numa casa de vidro, a trabalhar e estava muito quente lá dentro, infernal. Parecia uma casa situada na praia, mas com vários andares, porque desci algumas escadas. Lá fora, a areia estava húmida e estava muita gente sentada. Fiquei com a sensação que se trataria de uma espera por qualquer coisa. Eu estava sozinha e só pensei que bom seria que ele também estivesse ali. É sempre curioso que nos sonhos, quando estou em qualquer lugar de prazer, penso assim. Vou trazê-lo aqui ou que bom seria que ele aqui estivesse.
Ontem sonhei com aviões. Eu ia para a Roménia, mas os aviões no aeroporto, eram muito pequenos e tinham banheiras enferrujadas lá dentro. Achei que seria um bocado arriscado e não fui.

sábado, 12 de junho de 2010

Janela


bem, vou para a janela. Um hábito que perdi, com a agitação dos estudos e dos trabalhos e que gostava muito de fazer. Debruçar-me na janela do quarto, nas traseiras está muito escuro, podem pedir-se alguns desejos. Possivelmente, das poucas vezes em que solto/soltava o cabelo.


estas meloso-rádios..

Whenever I'm around you
It all seems so clear
If I wasn't such a fool
I'd kiss your lips, my dear
We could just let go, very slowly
Cause right now you're filling my head

Carta

Esta "carta" do al berto, é a coisa mais inesquecível que já li dele. Marca um tempo engraçado, muito muito muito remoto, algumas descobertas, o palácio de queluz de portas fechadas e nós (amiguinhos), lá dentro a ler isto. Tinha-o descoberto há pouco tempo. 1997. É uma seca a democratização da citação.

Continuo a achar este texto insuperável.  De vez em quando, lembro-me e vou ler. Achei sempre que para conseguir pensar, sentir a última frase, é preciso estar mesmo lá. É soberba.

reza assim:

" Quando o vento se levanta e passa, tua cabeça adormecida põe-se a brilhar. Em redor dela um halo de sombra onde a minha mão entra, vagarosamente, pedindo-te um sinal
Procuro o rosto com os dedos afiados pelo desejo. Toco a alba das pálpebras que, de súbito, se abrem para mim.
Um fio de luz coalha na saliva do lábio.
Ouvimos o mar, como se tivéssemos encostado a cabeça ao peito um do outro. Mas não há repouso nesta paixão.
O dia cresce, sem luz - e os pássaros soltam-se do pólen dos sonhos, embatem contra os nossos corpos.
Nada podemos fazer.
Um risco de passos ensaguentados alastra pelo chão da cidade. A noite cerca-nos, devora-nos. Estamos definitivamente sozinhos.
Começamos, então, a imitar a vida um do outro. E, abraçados, amamo-nos como se fosse a última vez...
O tempo sempre esteve aqui, e eu passei por ele quase sempre sozinho.
No entanto, recordo, deixaste-me sobre a pele um rasgão que já não dói. Mas quando a memória da noite consegue trazer-te intacto, fecho os olhos, o corpo e a alma latejam de dor.
Dantes, o olhar seduzia e matava outro olhar. Agora, odeio-te por não me pertenceres mais. Odeio-te. Abro os olhos. Regresso ao meu corpo e odeio-te. E, quem sabe se no meio de tanto ódio não te perdoaria - mas ambos sabemos que o perdão não existe.
Se fugias, perseguia-te. Mas o olhar começava a cegar. Sentia-te, já não te via. E o pior é que o tacto também esqueceu, rapidamente, a sensualidade da pele e o calor do sexo. O rosto aprendido de cor.
Hoje, tudo se sobrepõe. Nomes, rostos, gestos, corpos, lugares...um montão de cinzas que me deixaste como herança.
Não devo perder tempo com o ciúme. A paixão desgastou-me. E nunca houve mais nada na minha vida - paixão ou ódio.
Só isto: se me aparecesses agora, tenho a certeza, matava-te."

al berto
gostava tanto de ter ido aos santos.. o ano passado não fui porque X, este ano não vou porque xis.
Enfim, ainda bem que está chuva e frio.
às vezes acho que só precisava mesmo de alguém que cuidasse de mim, mais ou menos como uma criança cuida da sua boneca de trapos (que linda analogia, esta). Porque na prática, eu até prefiro nem falar muito, nunca fui de falar muito. Estava agora a lembrar-me do que me disseram uma vez no liceu: "tu nunca falas". Quem diria que eu me iria transformar nesta respigadora de conversas.
a graça que eu sempre achei a Buenos Aires..

.. e o giro que isto é.. : )

gosto de verniz, sempre gostei.
hoje comprei a cor vampire nº 40. Roxo a derramar-se num vermelho-sangue. Delicioso.

Sempre tive alguma curiosidade sobre os truques  que a moça da música do abrunhosa "tudo o que te dou" aprendeu no cinema. Pelo menos que libertasse o filme para as outras aprenderem também.
a verdade é que estou mortinha por ir ver o pesadelo em helm street mas sem Robert Englund.. nãã

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Finalmente consegui encontrar isto. Que giro que é.


"Os traumas não chegam nunca sós"
(está a merecer uma mudança de canal)
Gosto da palavra cria, hambre, nosotros.
aviso à comunidade:

O nectaríssimo de manga do pingo doce, sabe a marmelada.

"80 % da nossa memória constrói-se enquanto dormimos"

Sr. espanhol na TV2.


Fuck, ando a processar as coisas ao contrário.


Diz ainda o sr. que o sonho é um hábito.
E que, pelos vistos, eu tenho um sono de bebé, porque sonos interrompidos várias vezes ao meio da noite, correspondem a um não desligamento com o registo do sono que tinha quando estava na barrigada da mãe.
ok, já percebi. Há mais coisas e piores do que aquelas que já sei.

E continua.. "o cérebro amadurece quando estamos em sono profundo"
"O desenvolvimento intelectual, tende a diminuir em crianças com sonos irregulares". Bem, desculpa lá, mas nesta já não caio.
Testo o teu sexo
Se eu te escondo a verdade é pra te proteger da solidão
Confundo as tuas coxas com as de outras moças te mostro toda a dor
Te faço um filho pra te mostrar quem sou
Vivo num clip sem nexo, meio bossa e rock`n roll


A minha ligação a esta música, é qualquer coisa umbilical, é uma coisa invisível e tonta, como a maioria das coisas não corpóreas a que me encontro ligada. Claro que a forma rouca com que ele diz baby também ajudou, mas na base, trata-se de uma relação musicalmente profunda. A forma como a senti, da primeira vez que a ouvi, determinou para sempre, a lembrança do que eu pensei sobre ela, de como me movimentava, a caminho da escola, ao som disto e como todas as frases me suscitavam pensamentos, como fiquei espantada, curiosa, deslumbrada pela forma como tudo se justificava, como tudo o que eu desconhecia, parecia ser um mundo intenso e que naquela letra, se tornava excitante, porque eu iria cair inevitavelmente numa coisa destas, quem sabe, não cairia mesmo em qualquer coisa próxima a esta música. Provocava-me, fazia-me pensar, intrigava-me. Coisas que eu não percebia mas que aos meus olhos, na letra de uma música, dentro da cabeça de alguém, assumiam uma dimensão monumental. E no meio de tudo isto, havia uma certa tristeza, qualquer coisa me projectava para dentro da música e me fazia lá dentro, recordar de forma estranha, tudo o que eu não tinha vivido ainda, mas a partir de onde, eu tinha a certeza, nada voltaria a ser sentido da mesma forma. E tinha razão. A partir de determinado momento, o mundo mudou mesmo todo. Está tudo revelado, já.
Pego, levo, testo, sexo, mostro, dou, invento, vivo.
O amor só podia ser assim.


A partir daqui, descobri-o: chamava-se Cazuza e cantava coisas que me faziam pensar.

bolas, fiquei mesmo emocionada..o facto de ter contribuído para ampliar as hipóteses de alguém nalguma coisa, é extremamente reconfortante.

Exmo. (a) Senhor (a),
No âmbito do Procedimento Concursal referido em epígrafe, vimos informar que por não ter comparecido na Prova de Conhecimentos, realizada no dia 11 de Junho de 2010, está eliminado do mesmo, não lhe sendo aplicado o método seguinte. Apesar do que lhe vimos comunicar, queremos de facto desejar-lhe as maiores felicidades pessoais e profissionais
Agradecemos ainda a sua participação no Procedimento Concursal, pelo facto de ter contribuído para ampliar as nossas hipóteses de melhor escolha.


Com os melhores cumprimentos,

O Presidente do Júri
A sala de cinema produz em mim, o efeito aproximado ao que produz a um religioso, a entrada numa igreja. Se existe salvação para tudo, se existe diálogo, discurso, imagem, som, ritual que me apazigue o pensamento, encontra-se tudo numa sala de cinema. Num cantinho entre a cadeira número 7 e a 9, nos 15 minutos antes de tudo começar, no fecho de luzes, no som, sempre inicialmente desconfortável aos ouvidos, na pena de saber que a oração acabará duas horas depois. E foi sempre assim. Os brasileiros são geniais. Não vale a pena apontar-lhes à cabeça com as novelas e as mulheres fáceis, com a linguagem barata ou o mau português. São geniais e pronto. São geniais de uma forma mágica, profunda e sem precisar dos artifícios franceses de ocultar a explicação para fazer daquilo, uma realidade que esconde a realidade. Há coisas que são como se mostram e só assim vale a pena fazê-las existir, só assim se dão a sentir, porque só sentimos a realidade quando vivemos a realidade. Não é de uma grande crueza, não dói de morte, está revestido de humor, de graça, mas ainda assim, está bem feito. Um homem que é corrompido pelo amor a uma mulher. Uma mulher que acredita que não pode amar. Um homem que mata, mantendo ainda assim, a pureza do regresso a casa. E a hierarquia dos colchões, como nos livros de teoria.