A sala de cinema produz em mim, o efeito aproximado ao que produz a um religioso, a entrada numa igreja. Se existe salvação para tudo, se existe diálogo, discurso, imagem, som, ritual que me apazigue o pensamento, encontra-se tudo numa sala de cinema. Num cantinho entre a cadeira número 7 e a 9, nos 15 minutos antes de tudo começar, no fecho de luzes, no som, sempre inicialmente desconfortável aos ouvidos, na pena de saber que a oração acabará duas horas depois. E foi sempre assim. Os brasileiros são geniais. Não vale a pena apontar-lhes à cabeça com as novelas e as mulheres fáceis, com a linguagem barata ou o mau português. São geniais e pronto. São geniais de uma forma mágica, profunda e sem precisar dos artifícios franceses de ocultar a explicação para fazer daquilo, uma realidade que esconde a realidade. Há coisas que são como se mostram e só assim vale a pena fazê-las existir, só assim se dão a sentir, porque só sentimos a realidade quando vivemos a realidade. Não é de uma grande crueza, não dói de morte, está revestido de humor, de graça, mas ainda assim, está bem feito. Um homem que é corrompido pelo amor a uma mulher. Uma mulher que acredita que não pode amar. Um homem que mata, mantendo ainda assim, a pureza do regresso a casa. E a hierarquia dos colchões, como nos livros de teoria.
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