quinta-feira, 24 de junho de 2010



Hoje, pela primeira ou segunda vez na vida, tive uma atitude de que me orgulho. Ponderei e suspeitei de mim. Ora, tendo concorrido há cerca de oito meses a um concurso público para a minha licenciatura, e tendo em conta a reduzida e simpática bibliografia obrigatória para a prestação de provas, dediquei-me com algum afinco, calma, tempo. Suspeitei da facilidade da coisa, mas continuo a acreditar em tudo da mesma forma que acreditava, quando não percebia absolutamente nada de função pública, concursos, vínculos e contratos e por isso, fui esperando, esperando até que, a coisa do congelamento socrático precipitou o lanaçamento das listas e eis que, eu não estava lá. Mas não estava lá de nenhuma forma. nem admitida, nem excluída. E dentro do prazo de exclusão, também não recebera nenhuma carta. Dias depois, lançam pautas com avaliação de conhecimentos e psicológica. Ora, se já tinham decorrido os testes e eu não tinha sido, nem exluída, nem chamada, algo deveria ir mal no reino da câmara de Almada. Ainda assim, curiosamente, comecei a suspeitar de mim e não da câmara. E a novidade, começa toda aqui. Eu suspeitei primeiro de mim, dos meus olhos, da minha cabeça, de qualquer coisa que, ainda sem investigar a sério, adivinhei ter vindo de um erro meu. Dias depois dos dias depois, recebo finalmente uma cartinha, manifestando a minha exclusão, por não possuir o bendito vínculo à função pública. Eu, que li mil vezes o Diário da República, porque andava encantada com o concurso e com a facilidade da sua bibliografia e exigência de conhecimentos específicos, fui reler tudo novamente. Diário, bolsa de emprego público, anúncio, tudo. E, ainda assim, não detectei nada anormal. Nisto, decidi ligar a barafustar. Pensei logo: vou barafustar muito muito muito e com linguagem muito colocada. Mas não liguei. Além de suspeitar de mim, não me precipitei, não barafustei. Ao contrário, aceitei no desconhecido, sem justificação nenhuma, que aquilo da exclusão era para mim e era certo. Mesmo sem perceber, porquê. Hoje, sem preguiça, resolvi silenciar tudo à minha volta e com uma atenção excepcional, reler tudo novamente. Eis que, estava ali, à minha frente, claro como água, transparente, a prova. O procedimento concursal exigia vínculo mas, misturado com mais cinco procedimentos que não o exigiam e representado unicamente pelas letras AW, no meio de AV, Q, WR, PE e afins, dei por certo que aquele, me seria permitido. Fiquei contente porque, por momentos, pensei que a aldrabice destas coisas tivesse chegado a um ponto de descaramento tal, que já nem véu tivesse a cobrir. E pronto, tal como na faculdade, fiz a proeza de precipitadamente, ver e responder a duas questões, quando o enunciado ditava apenas uma, desta vez, andei meio ano a ler o plano anual da Câmara de Almada. O interessante deste fenómento de recrutamento, é mesmo o sentimento que me conduziu a achar que o que estava mal em tudo isto, ou era eu ou vinha de mim. Começo a desconfiar que sou fonte de demasiadas coisas.

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