segunda-feira, 21 de junho de 2010

Primeiro sonho dos 30



Não esperava muito da minha primeira noite com trinta. Mas não esperava isto.

Tive um sonho. Sempre sonhei com combóios, não no sentido psicanalítico da coisa. Não vejo os meus combóios a entrar por túneis escuros e profundos. Eu espero os combóios na estação. A estação de Queluz, a antiga, é sempre a estação antiga e eu avanço sempre, como na..realidade (?), até ao fundo da estação. Hoje, estava lá outra vez, esperava o combóio. Sozinha. E o que vejo sempre, de forma clara e forte, são os carris. Carris que se cruzam, linhas. Na linha, estava uma mulher, alta e que eu sabia ser muda e cega à espera da morte. A mulher ia suicidar-se. Absolutamente perturbador. Quase vergonhoso sonhar com um cenário destes. Obsceno. Lembro-me que ela vacilava, numa espécie de dança vertiginosa, por não ver e ouvir e ninguém lhe conseguiu tocar. O combóio aproximava-se, ela parecia ser mais alta que nós, a perspectiva da estação, do lado da plataforma de embarque (como lhe chama hoje), era diferente. Ela tinha um corpo grande. Alguns lançaram-lhe a mão, nós (do fundo da estação), voltámos as costas. É tão desconfortável lembrar-me disto. Que avancei mais uns passos e senti de forma tão real, que ia acontecer. Que desta vez, ia mesmo acontecer. Sempre que sonho com combóios, sonho com morte. É sempre um acidente, um suspense mortal que se encontra envolvido. E aconteceu. Aconteceu que virámos todos as costas e o combóio chegou. Ela não morreu. Eu entrei no combóio. No meio da multidão, das pressas, das fugas, estava um bocado do corpo dela. Dentro do combóio. Lembro-me de ver um pedaço de carne e sentir um cheiro nauseabundo e pensar que estava a sonhar e que aquilo nunca me tinha acontecido. Sentir o cheiro de alguma coisa. E na altura, pensei que só podia ser o odor da imagem, porque sabia que nunca tinha sentido aquilo antes. De alguma forma, soube que era um pedaço de carne dela. Um pedaço de carne da anca dessa mulher. Depois? O vazio. Absolutamente mais nada. Acordei.

Ai Dalí, Dalí, o que me dirias tu?

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