quinta-feira, 24 de junho de 2010



Ontem, estava a ouvir a conversa de uma rapariga, uns 35 talvez, presumo que com o marido, sobre a sopa para o jantar. Temos cenoura e isto e aquilo e dá para uma "base". Aquele tópico caiu-me com algum desagrado. Eu, que até gosto de sopa. Aproximei-me mais, para conseguir entender que outros legumes colocaria ela na sopa e que outros pormenores haveria mais para acrescentar ao diálogo. Dizia não me apetece estar agora em filas no supermercado. Vê lá o que temos no frigorífico.
Quando entrei no combóio, sentei-me propositadamente à frente dela, para olhar. Comecei a imaginá-la a fazer a sopa. E comecei a imaginar que contributo teria o tal marido, nessa sopa. Se aquela conversa de estação faria algum sentido para ele, se lhe apetecia a ela fazer essa sopa e pior, conversar durante 15 minutos ao telefone sobre os legumes (todos os dias iguais), para pôr na dita.
Tinha já algumas rugas de expressão em torno dos lábios e na testa, mas possuía ainda, pequenas frescuras de jovem. O cabelo descuidado, alguma barriga, pouco peito, as ancas para o largo, uma mala muito feia, uma aliança no dedo e um dia inteiro, digo eu, de escritório.
E pensei: tanta gente, a fazer tanta sopa tantos dias seguidos. Serão todos felizes quando a provam?

Hoje, no autocarro, um homem para uma mulher: Tudo chega. O bem e o mal.

É por estas e por outras, que não penso em largar os transportes públicos.
Os grandes clássicos, andam por aqui, no meio de nós.

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