segunda-feira, 31 de maio de 2010



ou a música mais sensual do mundo

domingo, 30 de maio de 2010

Conversion

The sea is like a neverending tune

And it comforts with its wave so pure
Comes in every corner of my body
And smiles and warmes
And it peels me with the sand
I wish i could convert to waves
And become the sea
Then i could clean you, clean you

Moments are scratching on my knee
I fight with the thoughts of fear
Fear for the loneliness i know
I'm alone as the sea
'Cause the pain you do in me
I wish i could convert to you
And you to the sea
“Clean me, clean me!”
[...] o Pessimismo é uma teoria bem consoladora para os que sofrem, porque desindividualiza o sofrimento, alarga-o até o tornar uma lei universal, a lei própria da Vida; portanto lhe tira o carácter pungente de uma injustiça especial, cometida contra o sofredor por um Destino inimigo e faccioso!Realmente o nosso mal sobretudo nos amarga quando contemplamos ou imaginamos o bem do nosso vizinho - porque nos sentimos escolhidos e destacados para a infelicidade, podendo, como ele, ter nascido para a fortuna. Quem se queixaria de ser coxo - se toda a humanidade coxeasse? E quais não seriam os urros, e a furiosa revolta do homem envolto nos céus para o envolver a ele unicamente - enquanto em redor toda a humanidade se movesse na luminosa benignidade de uma primavera?
- Com efeito - murmurei eu - esse sujeito teria imensa razão para urrar [...]

Eça de Queiróz
A Cidade e as Serras





sábado, 29 de maio de 2010



Quando o vi pela primeira vez, fiquei tão estarrecida que desejei ser, a partir daquele momento, completamente dissimulada. Encontro-me a 5% do percurso..

Pronto. Mais um.

quarta-feira, 26 de maio de 2010



Gostava muito desta música. Numa determinada altura. Estava a ouvi-la e encontrei uma memória de alguém sobre ela. É a coisa mais estranha do mundo. As memórias dos outros dentro das músicas que ouvimos. A assombrosa presença dos outros, que não conhecemos, a cantar a mesma música que nos traz ou leva coisas, que nos agarra ou nos larga.
E nisto, a memória desta mulher, sobre os seus 26 anos, escrita há 10 meses atrás, entra e passa a fazer parte da minha memória sobre a música, aos 30, 10 meses depois.
O tempo é um lugar estranho. Fazer-nos entrar num apartamento do passado, ouvir uma criança a chorar, um corpo a transpirar, uma janela entreaberta, um peito. Que confusão, isto.

 I love this song. When my son was an infant and it was a very hot summer in an unairconditioned apartment I would hold his crying sweaty body against my young strong chest and rock back and forth to this song. He would almost always fall asleep before the song was over. That was 26 years ago. Hearing this song always recalls this memory for me.

terça-feira, 25 de maio de 2010


o acaso acontece sempre na mouche


que coisa bonita!

carry your heart with me(i carry it in


my heart)i am never without it(anywhere

i go you go,my dear;and whatever is done

by only me is your doing,my darling)



i fear

no fate(for you are my fate,my sweet)i want

no world(for beautiful you are my world,my true)

and it's you are whatever a moon has always meant

and whatever a sun will always sing is you



here is the deepest secret nobody knows

(here is the root of the root and the bud of the bud

and the sky of the sky of a tree called life;which grows

higher than soul can hope or mind can hide)

and this is the wonder that's keeping the stars apart



i carry your heart(i carry it in my heart)

e.e. cummings

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Agora a palavra da moda é foyer. É foyer para cá e para lá. A mim, lembra-me fermento.
Eu cá, não gosto da Beatriz Batarda. Nunca gostei. Nunca. É mesmo uma embirração oca. Ela e o João Mota. Destesto-os. Acho-os embirrantes, vaidosos, feios, antipáticos. Não entendo a comunidade de iluminados que a considera uma actriz maravilhosa. Eu acho-a chata e sem sal. Pior, sem sal e com a mania que é apimentada mas não se quer dar como apimentada, porque isso é para professoras que se despem para revistas ou para as meninas que colocam implantes. Eu cá, a Beatriz B., sou uma mulher muito interessante e até sou atraente e desejável, mas escondo-me muito, maquilho-me raramente, porque o que interessa, é mesmo o meu trabalho. De vez em quando, apareço numa ou outra produção mais elaborada, mas é mesmo porque são as estreias, e tem mesmo de ser. Esta vai ser daquelas que nunca fará uma operação plástica, porque acha que interfere na leitura de Schiller.
«Torna-te aquilo que és». Devias era ler o Nietzsche.
Põe os olhos no Albano Jerónimo, palerma.


Surgiu-me à cabeça neste momento, uma coisa estranha. Um dia, há uns 7 anos, estava num cabeleireiro em Lisboa, ao qual nunca tinha ido e ao qual nunca mais voltei. Era um cabeleireiro grande. Estava lá uma noiva a «testar» a maquilhagem e o penteado. Naquela altura, lembro-me de olhar para ela e pensar que aquilo, que aquele ritual, nunca iria acontecer comigo. Eu nunca iria experimentar penteados nem pinturas para o dia do casamento. Nunca iria tratar o cabelo, pintá-lo, encaracolá-lo, escadeá-lo, prendê-lo, soltá-lo para tal. É curioso, porque antes, nunca pensara nisso e depois, também nunca mais pensei, pelo menos, com os contornos festivos da coisa, mas naquele momento, senti uma tristeza profunda pela minha certeza de que eu nunca estaria ali, nem prestes a prometer nada a ninguém e ainda não me tinha sequer passado pelas mãos, a única possibilidade disso acontecer. Mas naquele dia, numa espécie de premonição qualquer, fiquei triste e invejosa daquela rapariga. Comecei a pensar quem seria ele, o que sentiria ele em relação a ela, quanto tempo teriam namorado, que profissão teriam, a idade, como se relacionariam, falariam eles das mesmas coisas, teriam o mesmo grupo de amigos, seriam conhecidos de infância? Apostei nalgumas coisas, enquanto me lavavam o cabelo. Agora, neste preciso momento e passados tantos anos, lembrei-me dela, do salão de cabeleireiro, com uma clareza..com uma clareza das minhas, e pensei: será que ainda estão juntos? O que estarão a fazer enquanto me lembro dela? Será que têm filhos? O que será que mudou na vida deles? Serão felizes? E de repente, tive mesmo pena de muita coisa.
Enfim, há exercícios que só uma boa memória permite. Para o bem e para o mal.

domingo, 23 de maio de 2010

A coisa da morte das vedetas, sempre me afectou. Vedetas pirosas, vedetas bonitas, feias, enfim, ver as figuras da tela abalarem, consciencializa-me de uma forma estranha, que a morte está mais perto, é mais provável do que eu sinto. Há quem a sinta através de profundas leituras, de um olhar para uma paisagem bucólica, quem só pense na morte, quando se depara com a existência dos hospitais, eu realizo-a de forma muito forte, quando as pessoas que me são distantes, anónimas, desconhecidas, morrem. O cantor beto, morreu. Foi o coração. Sexta-feira aconteceu uma coisa que me deixou a pensar em algo que nunca senti tão próximo. Morreu uma mulher atropelada em Oeiras por um autocarro, em cima de um passeio, pelo qual estaria eu a passar, uma hora depois, para comprar o jornal. Se a mulher não tivesse sido atropelada às 11 da manhã, eu estaria, por volta do meio-dia, a passar por ali, para comprar o jornal. Já tinha dito aos colegas: hoje não almoço com vocês, porque é sexta e vou comprar o jornal. Ao meio-dia, não me apeteceu ir, e fui almoçar com eles. Uma hora depois, fico a saber que morre uma mulher ali. A sensação de eventualmente, ser tudo uma questão de roleta temporal, é fascinante e tramada. Fosse eu a passar ali, e teria sido eu. Não teria escapado. Não há grandes possibilidades de reagir, quando um autocarro sobe para cima do passeio. Mas não fui eu. Porque não tinha de ser eu. E fiquei a pensar que estava a pensar aquilo e a lamentar-me pela pobre mulher, pela criança e pelo condutor - de certa forma, a hora foi dele também e para sempre - e que podia acontecer, morrer um, dois ou três dias depois. Que podia estar destinada a lamentar-me por alguém e estar feito para mim, que desapareceria brevemente, também.
Não costumo pensar na morte. Tal como deus, sempre foi uma questão sobre a qual não pensei muito. Não me produz qualquer tipo de interrogação, não acho que compreendam, como ideias, qualquer tipo de complexidade. Não em si, por si. A fé e o tempo na morte, sim. Então, o beto poderá ter pensado: coitados, que azar terem morrido em cima do passeio. E domingo, morre pelo coração que será, digo eu, o único órgão com direitos divinos sobre a nossa cabeça. Não sei se me lamente de ter coração e não ter só cabeça, se é um consolo acreditar que o coração compreenderá quando a minha cabeça não aguentar mais e apague as luzes, sem grandes perguntas.

sábado, 22 de maio de 2010

Ontem ouvi o Júlio Machado Vaz na rádio. Fez-me rir e deixou-me confusa, ao mesmo tempo.












Nunca fui ao Portugal dos pequeninos. Suspirei sempre por ir, mas nunca fui. Passava mal nos autocarros e enjoava. Basicamente, foi motivo suficiente para não pôr lá os pés. Pronto, mas agora que estou a ler umas coisas e descubro (porque não sabia), que o dito espaço faz parte da lógica memorialística do Estado Novo, já não consigo entender aquilo como um conjunto de casinhas bonitas, à minha escala.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Se o que vemos hoje tivesse que tomar lugar dentro do quadro de nossas lembranças antigas, inversamente essas lembranças se adaptariam ao conjunto de nossas percepções actuais. Tudo se passa como se confrontássemos vários depoimentos

Maurice Halbwachs

E que revelação..
O lobisomem era o professor Astromar.
Não se pode dizer que tenha sido um casting muito subtil. Na verdade, eu sempre desconfiei que fosse ele. Mas ele era tão boa pessoa, que eu rezava para que não fosse ele o lobisomem. Isto porque calculava que havia uma margem de sofrimento muito grande, durante as transformações. Curiosamente, anos mais tarde, vim a descobrir que o cantor da música do lobisomem, tem ele próprio qualquer coisa da personagem, o que dá à história, alguma complexidade..




Com esta música aprendi que além do diabo, existe o capeta, que é mais vermelhusco.

Recordando os papéis que assumi nas várias novelas da altura:

- Roque Santeiro: Era a Tânia, a miúda que se apaixonou pelo padre Albano. Eu gostava da Tânia, achava-a gira, gostava do cabelo dela, da voz dela, do estilo. E gostava da música dela.
Também fui a mocinha, depois desisti. Era aborrecido. E no final, passei já por uma das prostitutas, mas durante pouco tempo, também por causa da música dela. (Que critérios profundos).

- Sassaricando: Tancinha

- Sinhá Moça: Ana do véu.

- Dona Beija: a própria.

Resumindo: fui uma vez a protagonista, a mulher que não quer nada com ninguém e mesmo assim, anda nua de cavalo, a miúda que desafia o padre, a rapariga misteriosa, a histérica simpática e recusei sempre, fazer de Malu Mader. Não se pode dizer que não tenha, desde criança, alguma lucidez novelística.
Três filmes que me marcaram muito a infância.
Vi neles, qualquer coisa mais profunda, do que meros filmes de terror.

E pensar que achava a Sissi Spacek engraçada..



(Com a mística da miúda ter morrido durante as filmagens)
A cena do quarto de hotel, dos espelhos, a vista sobre os arranha-céus, provocava-me na altura uma sensação tremenda de recordação.  Marcou-me a memória de uma forma inexplicável. O que é engraçado pensar, é porquê? Como é que as coisas que não são vitais, que não são conscientes, nos marcam. Que associação fazemos, que memória é esta, que vive à margem ou no meio das coisas?



Every town has a Elm Street

One, two, Freddy's coming for you...Three, four, better lock your door...Five, six, grab your crucifix...Seven, eight, gonna stay up late...Nine, ten, never sleep again
Be careful what you dream

Que função desempenha o sonho no ser humano?

Eu diria que o sonho é aquilo que é mais especificamente humano, mesmo que para isso eu tenha de reduzi-lo a uma categoria de acto que recusa a realidade. Portanto, o sonho é a actividade do espírito que nos quer libertar do fracasso, da frustração, da decepção, da impotência, e que mostra que nós somos um animal inconformista, um animal revoltado. Poderíamos usar várias expressões filosóficas para descrever o humano mas não o hommo sapiens sapiens, que é isso que não somos. Teorias como o empirismo, o racionalismo, o pragmatismo que se baseiam na apologia do progresso, da razão, da ordem negam isso, As teorias românticas, como o neo-romantismo que hoje é transportado pela psicanálise e pelo marxismo, são teorias do Homem dramático, do Homem revoltado, do Homem inconformado com a exploração do Homem pelo Homem, da mulher pelo homem, com a injustiça, com a humilhação, com o racismo, com o preconceito, etc; são teorias do Homem inconformado com o seu próprio recalcamento, ou seja, com a impossibilidade de sentir, de viver, de pensar, de ser agente, de ser autêntico, de tér uma identidade pessoal, de correr riscos em nome de si próprio... Deste modo, o marxismo e a psicanálise são, para mim, as correntes modernas que continuam a exprimir a problemática do Homem inconformado. Foi nessa acepção que Edgar Morin propôs que se alterasse a designação de homo sapiens sapiens para homo sapiens demens. O sonho é o demens e é o demens que é a parte realmente humana do Homem, é o acto louco. Louco quer dizer que nós temos que viver fora do real porque temos uma alma tão sensível, tão vulnerável, tão traumatizável face a realidades que podem estar tão fora de nós como a morte, ou biológicas como a doença, o envelhecimento, a decrepitude, ou de outras coisas que vêm das relações inter-humanas: o racismo, a opressão, crianças a morrer à fome, genocídio, tortura, actos terríveis que os Homens podem fazer alguns muito visivelmente terríveis, outros disfarçadamente terríveis, organizadamente terríveis que magoam tanto que nós desejaríamos que o mundo fosse qualquer coisa que não é. Posto isto, o problema é que nós vivemos entré o que há e não gostamos e o que não há e queríamos que fosse, ou seja, temos ideais, protestamos contra a realidade e inventamos outra porque queremos fugir à angústia. E o sonho é a forma que os humanos têm de vencer a adversidade.

José Gabriel Pereira Bastos
ou o professor mais giro da FCSH

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Immured the whole of life
Within a magic prison

emily dickinson

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A nossa geração apanhou tudo o que é mau. Não há volta a dar.
(o universo das ciências é muito complexo)

Uma tese com o título: Molecular phylogenetics and conservation genetics of mouse lemur in northwestern Madagascar. Submitted for the degree...
Doctor of Philosophy

terça-feira, 18 de maio de 2010

(para Anna Blume)

às vezes, acho que daria um homem bom.

POLICLÍNICA

O autor coloca os pensamentos sobre a mesa de mármore do café. Longa meditação: aproveita o tempo em que o vidro - a lente com a qual examina o doente - ainda não está à sua frente. Depois, vai retirando os seus instrumentos: caneta, lápis e cachimbo. A multidão dos frequentadores, disposta em anfiteatro, constitui o seu público clínico. O café, servido por mãe solícita e assim saboreado, submete o pensamento aos efeitos do clorofórmio. Aquilo em que pensa tem tanto a ver com a coisa em si como o sonho narcotizado com a intervenção cirúrgica. Fazem-se incisões nas cuidadas linhas da caligrafia, o operador desloca acentos no seu interior, cauteriza as protuberâncias verbais e insere, como se fosse uma costela de prata, uma palavra estrangeira. Por fim, cose tudo com os pontos finos da pontuação e paga ao criado, seu assistente, em numerário.

Walter Benjamin
Imagens de pensamento

segunda-feira, 17 de maio de 2010

"Times are hard for dreamers"

Hoje, pensei nisto.
Os olhos dela sobre as coisas. A forma como chora pelas coisas.

Ashes é uma palavra magnífica.
"Don`t you remember i was always your clown" é mesmo bonito, caramba.

Uma letra tão tonta, para uma questão tão estranha.
As coisas estranhas, merecem melhores letras.

You said this isn’t working, got to move on

You maybe right, perfection this is not
But what’s the perfect love like, a flower or a flame?
You got something you want everything and never what you got
Cause how many times how many times how many times
Can you fall in love?
And how many loves how many loves how many loves
Make a life?
Sweet happiness they say comes in doses
Are they numbered and what’s left of my stock?
Thinking 3 AM thoughts, in the 3 AM dark
Am I listening to my heartbeat or the ticking of the clock?
How many times how many times how many times
Can you fall in love?
And how many loves how many loves how many loves
Make a life?
Tell me how many times how many times how many times
Can you fall in love?
And how many loves how many loves how many loves
Make a life?
The girl behind the counter made his heart throb
He paid and got his change and turned to go
Thinks, he’ll ask her out tomorrow
But tomorrow she’ll be gone
It will take three weeks till he won’t dream about her anymore
Thinking how many times how many times how many times
Can you fall in love?
And how many loves how many loves how many loves
Make a life?
How many times how many times how many times
Can you fall in love?
And how many loves how many loves how many loves…
Termos de andar com um actor atrás de nós, é uma canseira. Eu cá, gostava que atrás de mim, andasse uma tipa gira mas pacata, que não me metesse em embrulhadas e responsabilidades e me deixasse ser, simplesmente, uma actriz qualquer.
Há uma senhora que apanha o mesmo autocarro que eu, que é exactamente a cara do Robbin Williams, a fazer de mulher.
Sai sempre antes de chegarmos a Hollywood, o que me leva a crer não se tratar do actor, mas de uma infeliz mulher com a sua coincidência cinematográfica.
Nunca percebi muito bem o meu gosto por este senhor, mas na verdade, tendo adquirido este disco, não me posso envergonhar de saber duas músicas de cor, porque me lembro bem de estar muito contente na fase em que ouvia isto. Por nenhum motivo especial, talvez porque estava a caminho de todos os motivos, não havia nada, não agia sobre nada, não dependia de nada. E porque não há tristeza que resista à esperança contida nas palavras espanholas.

trapped in the hole

«O Homem nasce livre e por todo o lado ele está acorrentado. Mesmo quem se crê senhor dos outros; esse ainda é mais escravo do que eles. Como se fez esta transformação? Eu não sei.»
Nenhuma resposta foi encontrada até hoje- Deve haver, no interior da sociedade humana, alguma coisa que actua impedindo que se coloque a questão correcta de maneira a se chegar à resposta correcta. Alguma coisa, bem escondida, está a actuar de forma a não permitir que se coloque a questão correcta. O elemento escondido é a peste emocional do Homem. É da formulação adequada do problema que dependerá a focalização apropriada da atenção, e disto dependerá chegar à descoberta da resposta correcta à questão de como é possível que o Homem, nascido livre, se encontre sempre e por todo o lado reduzido ao estado de escravo.
A humanidade nunca conseguiu responder à pergunta de como pode haver o mal, se um deus perfeito criou e governa o mundo e os homens. A humanidade imaginou muitos sistemas de pensamento para enfrentar a natureza. Mas a natureza, funcional e não-mecânica, como ela de facto é, sempre lhe escapou por entre os dedos. A humanidade sempre correu atrás de cada ínfima parcela de esperança e de conhecimento. Mas depois de três milénios de pesquisas, de tormentos, de sofrimentos, de assassinatos punindo heresias, e perseguições por faltas aparentes, ela não conseguiu mais do que algum conforto para uma minoria, sob a forma de automóveis, aviões, refrigeradores e aparelhos de rádio. Depois de ter meditado durante milénios sobre os mistérios da natureza humana, a humanidade encontra-se exactamente no ponto de partida: tem que admitir a sua ignorância total. A mãe ainda fica sem saber o que fazer diante de um pesadelo que apavora o seu filho. O médico ainda não sabe o que fazer diante de algo tão simples como um nariz escorrendo.Novas fórmulas matemáticas também de nada adiantarão. É inútil filosofar sobre o sentido da vida, se ignoramos o que é a vida. Tudo parece então convergir para um único facto: há algo basicamente e essencialmente errado em todo o processo pelo qual o homem aprende a conhecer a si mesmo. Locke, Hume, Kant, Hegel, Freud, foram, sem dúvida, grandes pensadores, mas de certa forma não preencheram o vazio, e a imensa maioria dos homens não foi tocada pela pesquisa filosófica. Enunciar a verdade com modéstia não altera o problema.
Escapar de uma armadilha é possível. Mas, para alguém sair de uma prisão, primeiro precisa reconhecer que está numa prisão. A armadilha é a estrutura emocional do homem, a sua estrutura de carácter. A natureza da armadilha só apresenta interesse na medida em que ajuda a responder a esta única questão crucial: onde está a saída? Pode-se enfeitar a prisão para torná-la mais habitável. Isto é feito pelos Michelangelos, os Shakespears, os Goethes. Podem-se inventar artifícios para prolongar a vida na prisão, como é feito pelos grandes cinetistas e médicos, os Meyers, os Pasteurs e os Flemings. Mas o essencial ainda é: encontrar a saída da prisão.Onde está a saída que conduz ao infinito espaço aberto?
A saída continua escondida. Este é o maior enigma.Mas vejamos a situação mais ridícula e, ao mesmo tempo, mais trágica: A SAÍDA É CLARAMENTE VISÍVEL PARA TODOS OS QUE ESTÃO PRESOS NA ARMADILHA. MAS NINGUÉM PARECE VÊ-LA. TODOS SABEM ONDE ESTÁ A SAÍDA. MAS NINGUÉM SE MOVE EM DIRECÇÃO A ELA, PIOR AINDA, QUEM QUER QUE A INDIQUE, É DECLARADO LOUCO, CRIMINOSO, PECADOR DIGNO DE QUEIMAR NO INFERNO. No fim das contas o problema não está na armadilha, nem mesmo em descobrir a saída. O problema está NOS PRISIONEIROS. Visto de fora da prisão, tudo parece incompreensível para uma mente simples. Há mesmo qualquer coisa de insano. Por que motivo os prisioneiros não vêem a saída nitidamente visível, por que não se dirigem para ela? Logo que chegam perto começam a gritar e a fugir dela. O grande problema da vida e da origem da vida é um problema psiquiátrico; é um problema da estrutura do carácter do Homem, que durante tanto tempo conseguiu evitar a sua solução. O verdadeiro problema do Homem é a evasão básica do essencial. Essa evasão e fuga fazem parte da estrutura profunda do Homem. Fugir à saída da prisão é resultado dessa estrutura. O Homem teme e detesta a saída da prisão. Ele se resguarda acirradamente contra qualquer tentativa de encontrar essa saída. Este é o grande enigma.

Wilhelm Reich
O assassinato de Cristo

Será que isto convenceria o governo a desistir da trágica ideia de congelar as minhas únicas (e ainda assim, viciadas) oportunidades de trabalho nos próximos dois anos?
Não entendo. Penso, penso e não entendo o que signficará este congelamento. Ponho-me a pensar: congelamento será o que eu entendo por congelamento? Ponho-me a pensar e pergunto a pessoas: entendi bem? É mesmo assim? E as pessoas entendem o mesmo que eu e nisto, continuo sem perceber bem, a dimensão trágica que é, não poder sequer, procurar emprego, porque simplesmente, ele não existirá. Como é que se congelam empregos?

domingo, 16 de maio de 2010

Hoje perguntei à Inês: Inês, será que nós, nós as duas, nós no tempo, nós a falarmos todas as semanas, nós na escola primária, nós em Sesimbra, nós a rir, nós a assumir que choramos, nós comigo a partir-te a bandolete, tu a roubares-me os lápis de cera, nós contigo a seres a única a não ir às festas de carnaval, nós a espreitar a tua irmã a falar com uma boneca, nós a zangarmo-nos numa aula de geografia, nós a rir dos outros, nós amedrontadas com os passos dos caracóis numa noite de Verão, nós com os pés na areia, nós comigo a reclamar da ventania do meco, nós com o teu pai a obrigar-me a comer fruta depois do jantar, nós e a tua irmã a rirmos das três, nós a ver fotografias, nós contigo de cabelo cortado à tigela, nós a prometermos coisas estranhas para depois da vida, nós indecisas, nós comigo a dizer que nunca mais muitas coisas, nós contigo a dizer se e a deixares para trás tanta coisa, nós a gostarmos de música diferente, nós a gostarmos de filmes diferentes, nós contigo a maquilhares-te muito e passado uns anos, desistires, nós e o teu gosto por perfumes fortes e o meu gosto por perfumes fracos, nós e o teu gato, nós, o teu gato e três gatos de cada cor, nós e o meu cão, nós e a tua mãe a achar-me mais bonita, nós e eu a corar, por saber disso, nós e a impostora, nós e a mulher má, nós e um quintal semeado durante a noite, nós e a tua pele muito morena, nós e a minha pele muito branca, nós e tu a não usares creme na praia, nós e eu a cair de bicicleta nas pedreiras, nós a rir das descobertas dos outros, nós a falar mal, nós apaixonadas, nós a acharmos coisas sobre nós.
Será que nós, Inês, será que nós vamos envelhecer como as mulheres?
Na verdade, quando alguém diz: eu não fecho portas, não entendo muito bem o que queira dizer. Porque na prática, nenhum de nós tem o poder de fechar portas. O grande feito, é dizer: eu quero abrir esta porta e não o contrário. Isto sim, é verdadeiramente glorioso, corajoso, impetuoso, visceral. O resto, é boa vontade. A única coisa que fecha portas é a vida. O que nós podemos dar ao outro, são portas abertas e não, erradamente, a possibilidade de não as fechar. O benefício da dúvida, o cálculo, é coisa de matemáticos, não é coisa de romances.

sábado, 15 de maio de 2010


por falar em sonhos, hoje estou decidida a sonhar com a Júlia Roberts.
Júlia, o nome que me habita, por baixo da pele da Ana.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

(Roubado à trama)
Kafka por baixo da Scarlett será decididamente um sinal.

«Só existe um destino, nenhum caminho. Aquilo a que chamamos caminho é hesitação.»
O bom que é acordar, a sensação de fortuna, de conforto que é, saber que as contratações públicas estão totalmente congeladas. É mesmo uma coisa que precisava de ouvir neste momento para perceber como nunca nada poderá ser feito.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Obras em que estou, em que me sinto, que entendo - I

Lucien Freud

Francis Bacon

Dalí
Cyndi Sherman
Be careful of words,

even the miraculous ones.
For the miraculous we do our best,
sometimes they swarm like insects
and leave not a sting but a kiss.
They can be as good as fingers.
They can be as trusty as the rock
you stick your bottom on.
But they can be both daisies and bruises.
Yet I am in love with words.
They are doves falling out of the ceiling.
They are six holy oranges sitting in my lap.
They are the trees, the legs of summer,
and the sun, its passionate face.
Yet often they fail me.
I have so much I want to say,
so many stories, images, proverbs, etc.
But the words aren't good enough,
the wrong ones kiss me.
Sometimes I fly like an eagle
but with the wings of a wren.
But I try to take care
and be gentle to them.
Words and eggs must be handled with care.
Once broken they are impossible
things to repair.

Anne Sexton
incrivelmente engraçado.


All my life, I worshipped her
Her golden voice, her beauty's beat
How she made us feel
How she made me real
And the ground beneath her feet
Atribuir a um artigo com o título Divergence of larval morphology between Drosophila sechellia and its sibling species caused by cis-regulatory evolution of ovo/shaven-baby, a  palavra-chave  "Body Plan" é, no mínimo, ingenuo.

terça-feira, 11 de maio de 2010



Abrir a porta à ideia de deus, é abrir a possibilidade de tudo ser possível.
O que é terrivelmente sedutor.
O fenómeno das multidões deixa-me, não muito aquém do fenómeno das auroras boreais. Com a devida distância de ser mais fácil mergulhar num mar de gente, do que olhar para um céu estrelado e acontecer qualquer coisa mais, além de um céu estrelado. Na verdade, pensei que não ia resistir à curiosidade da multidão de hoje e, sem pensar muito, espreitei. Na verdade, também não esperava que a imagem desta multidão que se arrastava para dentro de si, fosse também, algures, a minha multidão, da minha fé, que viverá entre a fé dos outros e o meu sentimento sobre as coisas. As bagatelas sobre a instituição da igreja, pareceram-me sempre argumentos desleais para com uma coisa que ultrapassa qualquer edifício, que é mais profundo, complexo, verdadeiro, que qualquer hierarquia: as pessoas. O que as movimenta, o que as faz viver e decidir afastar-se, o que as aproxima do que conseguem tocar e o que as faz, magicamente, envolver-se, com aquilo que não conhecem, que nunca viram, que não ouvem, pelo pacato sentido de acreditar que nós todos estamos, de alguma forma, mais além do chão que pisamos. 
Ontem estava a pensar em como esta imagem me perturba. Como a acho verdadeiramente fabulosa, como me emociona profundamente. Uma coisa que a pintura, mal ou bem, sempre teve dificuldade em me provocar. E penso nisto, ao mesmo tempo que acho que sempre tive sobre a pintura e sobre todas as artes que não sejam cinema ou literatura, algumas exigências, porque sempre senti que falta à apreciação sobre algumas coisas, o entendimento do estudo, da prática, da técnica. Na verdade, acho muito difícil alguém apreciar pintura, se não a conhecer como técnica. Existe na pintura qualquer coisa que nos evita, que nos afasta de certezas sobre argumentos, sobre temas, sobre estilos. Acho sobre muito poucas coisas,  que seja preciso conhecimento para estar lá, mas talvez aqui, me sinta sempre pouco preparada para julgar, porque me sinto pouco preparada para olhar. E nisto, saber olhar para as coisas, não significará exactamente o mesmo que gostar delas, saber-lhes a verdade, compreendê-la, estar lá. Neste quadro, que me dilacera, tenho-me detido tanto tempo, que chega a doer, chegar cada vez mais perto, de mim.

domingo, 9 de maio de 2010

Estou a ouvir na tv, publicidade a um programa que anuncia que vai mudar a sua vida. Isto porque parece que possibilita o falatório com os mortos. Ora, eu penso: que pena, não tenho assim nenhum morto que gostasse de contactar. Mas gostava muito de falar com alguns vivos. E de repente, torna-se muito mais fácil, transpor a barreira da vida, da morte, do desconhecido, ligar um número de telefone, inscrever e falar com o além, do que, simplesmente, falar com os vivos. Há coisas mesmo estranhas.
Standing at the punch table swallowing punch
can’t pay attention to the sound of anyone
a little more stupid, a little more scared
every minute more unprepared
I made a mistake in my life today
everything I love gets lost in drawers

I want to start over, I want to be winning
way out of sync from the beginning

I wanna hurry home to you
put on a slow, dumb show for you

and crack you up
so you can put a blue ribbon on my brain
god I’m very, very frightening
I’ll overdo it

Looking for somewhere to stand and stay
I leaned on the wall and the wall leaned away
Can I get a minute of not being nervous
and not thinking of my dick

My leg is sparkles, my leg is pins
I better get my shit together, better gather my shit in
You could drive a car through my head in five minutes
from one side of it to the other

I wanna hurry home to you
put on a slow, dumb show for you
and crack you up

so you can put a blue ribbon on my brain
god I’m very, very frightening
I’ll overdo it

You know I dreamed about you
for twenty-nine years before I saw you
You know I dreamed about you
I missed you for
for twenty-nine years

You know I dreamed about you
for twenty-nine years before I saw you
You know I dreamed about you
I missed you for
for twenty-nine years



sábado, 8 de maio de 2010

terrible love

It’s a terrible love that I’m walking with spiders

It’s a terrible love that I’m walking with
It’s a terrible love that I’m walking with spiders
It’s a terrible love that I’m walking with
It’s quiet company it’s quiet company

It’s a terrible love and I’m walking with spiders
It’s a terrible love that I’m walking in
It’s a terrible love and I’m walking with spiders
It’s a terrible love that I’m walking in
It’s quiet company it’s quiet company
It’s quiet company

And I can’t fall asleep
Without a little help

It takes awhile to settle down
My ship of hopes
Wait til the past .. ?

It takes an ocean not to break
It takes an ocean not to break
It takes an ocean not to break
It takes an ocean not to break

Company
It’s quite company
It’s quiet company

But I won’t follow you into the rabbit hole
I said I would but then I saw
Your shivered bones they didn’t want me to

It’s a terrible love and I’m walking with spiders
It’s a terrible love that I’m walking here
It’s a terrible love that I’m walking with spiders
It’s a terrible love that I’m walking here
It takes an ocean not to break
It takes an ocean not to break
It takes an ocean not to

e como as justificações podem ser tão simples.


Because the world is round it turns me on Because the world is round
Because the wind is high it blows my mind

Because the wind is high

Love is old, love is new
Love is all, love is you

Because the sky is blue, it makes me cry
Because the sky is blue

quarta-feira, 5 de maio de 2010

se eu pudesse,
com os joelhos junto à cabeça e os cotovelos junto ao sexo,
intenso ao ponto de faiscar no escuro,
mas não me lembra a música

A Felicidade é um Túnel


o domínio
o erotismo do domínio
do domínio irrisório
mas enorme

submeter
ver tremer
ver o tremor do outro

vencer
o gelo
o desdém
veloz

a felicidade é um túnel


Ana Hatherly, in "Um Calculador de Improbabilidades"



É espantoso o que uma cabeça oca pode conceber. É um perigo iminente uma cabeça vazia. Instava enchê-la de pensamentos, o mais depressa possível, antes que fosse tarde e ela própria gerasse ideias nascidas lá dentro, sem nenhuma relação com o que existisse cá fora.


Manuel de Lima

"Malaquias ou a história de um homem barbaramente agredido"

terça-feira, 4 de maio de 2010

Possivelmente, o mais genial título de uma tese de mestrado.

Sei exactamente o que faço e no entanto faço-o (...)

sábado, 1 de maio de 2010

e o que é estranho, saber de coisas destas, às onze da manhã.
O modelo Ambrose Olsen enforcou-se na quinta-feira, aos 24 anos.
Quando a beleza não salva, quando não é tudo, quando não supera o dia cinzento, a palavra errada, quando não segura o universo, a cabeça, o que existirá mais?