segunda-feira, 24 de maio de 2010



Surgiu-me à cabeça neste momento, uma coisa estranha. Um dia, há uns 7 anos, estava num cabeleireiro em Lisboa, ao qual nunca tinha ido e ao qual nunca mais voltei. Era um cabeleireiro grande. Estava lá uma noiva a «testar» a maquilhagem e o penteado. Naquela altura, lembro-me de olhar para ela e pensar que aquilo, que aquele ritual, nunca iria acontecer comigo. Eu nunca iria experimentar penteados nem pinturas para o dia do casamento. Nunca iria tratar o cabelo, pintá-lo, encaracolá-lo, escadeá-lo, prendê-lo, soltá-lo para tal. É curioso, porque antes, nunca pensara nisso e depois, também nunca mais pensei, pelo menos, com os contornos festivos da coisa, mas naquele momento, senti uma tristeza profunda pela minha certeza de que eu nunca estaria ali, nem prestes a prometer nada a ninguém e ainda não me tinha sequer passado pelas mãos, a única possibilidade disso acontecer. Mas naquele dia, numa espécie de premonição qualquer, fiquei triste e invejosa daquela rapariga. Comecei a pensar quem seria ele, o que sentiria ele em relação a ela, quanto tempo teriam namorado, que profissão teriam, a idade, como se relacionariam, falariam eles das mesmas coisas, teriam o mesmo grupo de amigos, seriam conhecidos de infância? Apostei nalgumas coisas, enquanto me lavavam o cabelo. Agora, neste preciso momento e passados tantos anos, lembrei-me dela, do salão de cabeleireiro, com uma clareza..com uma clareza das minhas, e pensei: será que ainda estão juntos? O que estarão a fazer enquanto me lembro dela? Será que têm filhos? O que será que mudou na vida deles? Serão felizes? E de repente, tive mesmo pena de muita coisa.
Enfim, há exercícios que só uma boa memória permite. Para o bem e para o mal.

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