terça-feira, 31 de agosto de 2010
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Hoje
Eu escolhia os discos pelas capas. Poucos entendem a força da ligação dentro/fora, sem especular.
sábado, 28 de agosto de 2010
Dias em que sou. Há dias em que sou enorme. Resvalo sobre o espaço, como quem sente a leveza do nada e do ninguém, e ocupo em altura, passos de gigante sobre um campo de malmequeres. Nos dias da grandeza, consigo viver fora do dentro de mim. Nesses dias, dou aos outros, o que habitualmente lhes escondo. Com algum cuidado, hesito em toda a gramática do dia e vou solicitando, linha a linha, a correcção de deus.
Há dias em que me sinto profundamente só. Hoje é um deles. Só com as minhas pessoas, só com o meu corpo, com o corpo dos outros, com as palavras que escrevo, que leio, com as músicas que ouço, com as notícias dos jornais, com a minha roupa, com o meu calendário, com o meu jantar, com o não sei da minha amiga, com as certezas que lhe debito, ao telefone, sem saber muito bem se acredito naquilo para mim, para a minha salvação, mas que disserto de forma colocada e profunda sobre os seus ouvidos. Só, com as histórias que ouço na rua, com os dois filmes que comprei, com os anúncios da redbull, com os planos, com a lembrança das certezas, com o presente, com o futuro, com o tempo, com o meu riso, com a felicidade, com a segurança. Hoje, não sinto absolutamente ninguém comigo. Ao pé de mim. E esta ausência não se liga a nenhuma espécie de falta de presença, vai mais além. Chega a uma plataforma que eu sei que não é totalmente real porque terei sempre alguns olhos sobre os meus gestos, sobre as minhas palavras, mas que existe, como um sinal de nascença. O instinto para o outro, para proteger o outro, é a única coisa que, na maioria das vezes, se sobrepõe a este sentimento. E não é fácil eu sentir o impulso a abrir os braços sobre o outro.
E vejo-os, a todos os outros, ao longe, todos juntos, com algumas pessoas que são deles e eu não consigo rever-me em ninguém, em lado nenhum, não me sinto pertencer a nenhum contexto, não sou inteiramente de parte nenhuma de ninguém que conheça. Isto tudo para dizer que na prática, também não teria nada para lhes dizer, mesmo que me apetecesse queixar-me.
Há dias em que toda a gente me mata, quando me fala.
Há dias em que toda a gente me mata, quando me fala.
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Às vezes, quando a música parava, dava por mim a cantarolar a melodia que momentos antes desejava que parasse. Percebi que lhe sentia a falta. [...] Todos os psicanalistas sabem que em cada sintoma (e isto é um sintoma), por detrás de cada defesa, há um desejo. [...] As canções que vêm ao de cima...transportam consigo impulsos, esperanças, desejos. Desejos românticos, sexuais, morais, agressivos, assim como impulsos de acção e de domínio. [...] Por muito que me queixe, e pelo menos em parte, a canção é bem-vinda.
Leo Rangell
Musicofilia
Se fosse uma música, seria esta.
Conhece alguém as fronteiras à sua alma, para que possa dizer - eu sou eu?
FP.
(tenho saudades da filosofia)
FP.
(tenho saudades da filosofia)
Que o dasein não académico + o académico por excesso, ache sobre isto, o que quiser. Sinto saudades da filosofia, de uma forma intermédia. Que não se situa na profundidade de não a achar substituível às conversas fúteis das pessoas nos transportes públicos (em que tanto acredito e em que tanto penso), que não pede devoção extrema que me leve a não a trocar por uma tarde de praia aspirando ao ganho de cor de pele. Sinto saudades da filosofia, na forma como me dava, entre espaços, pequenas coisas, que eram revelações de mim sobre mim. Apenas. Nada para fora, nada que se espalhe sobre as questões do universo e sobre a contradição das grandes tragédias humanas. Saudades das coisas-de-sentir, que às vezes, têm de ser necessariamente egoistas. Ontem, enquanto comia um hamburguer, pensava no que o heidegger dizia sobre a relação instrumental que temos com todas as coisas no mundo. E perguntava-me, entre uma batata e outra, se realmente procuramos apenas, ou essencialmente, a funcionalidade. E se na essência somos função, que ciclo é este de nós para os outros? E como procuramos nas pessoas, as coisas que podemos fazer delas.
Porquês, às costas de Setembro.
Porquês, às costas de Setembro.
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
terça-feira, 24 de agosto de 2010
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Sinto-me muito Ana.
Quando penso em nomes, penso que eu não poderia ter outro.
E só entendo isto, quando leio uma Ana e me emociono, porque sinto-me ali, em duplo nome. Uma Ana, são todas as Anas do mundo. O que pressinto, não acontecerá com qualquer outro nome feminino.
Leio uma Ana desconhecida que às vezes me emociona.
Cronos e Kairos
Às vezes a tristeza vem de lado nenhum. Eu sinto que nunca conseguirei deixar de estar triste. A tristeza é uma espécie de liquido amniótico e eu culpo alguns outros por me encontrar emocionalmente mergulhada no pensamento do estar triste. Culpava. Porque esta forma decidida que institui em mim de ser triste de forma egoista, rege-se por princípios metereológicos que me ajudam a expelir a coisa para o céu. Hoje está um dia escuro e o tempo traz as essências de volta. E tudo pode vir com uma força demolidora (que não deita, afinal de contas, nada por terra), de um dia cinzento, da falta de uma palavra, de uma palavra a mais à qual não respondes, do cheiro a terra molhada que te faz voltar atrás ou temer o futuro, do arrependimento de dizeres as coisas de uma determinada maneira mas sentires que gostavas de as dizer de outra. Mas os outros não poderão nunca ser exactamente aquilo que preciso, minuto a minuto, hora a hora. O mesmo de sempre. Desta vez, decidi que iria lutar contra a coisa, virando-a ao contrário e tentando ver o lado de lá. E nisto, vejo-me a repetir os mesmos pensamentos, as mesmas palavras, os mesmos diálogos, a imaginar que o coração cairá novamente nas mesmas ausências. Ausências que eu sei que estão cheias de pessoas, de bons gestos, de boas vontades, de amores e de amizades, de reconhecimentos, de risos, de preocupações. Mas que em dias como este, são ausências, porque o meu corpo se sente fora do circulo de afectos. Um acidente na estrada. Outros corpos se queixarão de sair dos seus circulos emocionais. O meu, é o queimado grave de um acidente. O acidente é ser-me. Nem mais extensão, nem mais cálculos. Eu sou assim e agora percebo isso. É incontornável ser sozinha. Mas agora posso sentir isto tudo com um pequeno acréscimo que espero, salve o resto da vida da tristeza dentro da minha cabeça: a certeza. E hoje, por exemplo, sinto-me capaz de uma coisa que não conseguiria há tempos atrás: desculpar-me por me sentir triste e engolir a patologia com um copo de água.
Tenho os olhos preparados para todas as cenas de Hollywood.
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
sábado, 14 de agosto de 2010
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
cicatriz
Voltando aos homens bonitos: como é possível gostar tanto da beleza masculina e escrever um texto elogioso sobre o “Dr. House”?
Mas ele é lindíssimo.
E coxo, minha senhora.
E depois?
E isso não o macula?
Não. Dá-lhe um atractivo duplo. É um ser perfeito que tem uma cicatriz. Em alguém tão forte, aquilo que é interessante é o calcanhar de Aquiles. Eu acho o Hugh Laurie um homem muito bonito.
Então quais são as qualidades essenciais num homem e numa mulher?
As qualidades que me atraem em ambos são parecidas. E, com a idade, eu valorizo menos a beleza física, por razões óbvias. As pessoas envelhecem, ficam diferentes. E também aprecio menos a inteligência do que apreciava. Eu era uma snob intelectual horrível. Durante anos dividia a Humanidade em atrasados mentais (que eram 99% das pessoas que me rodeavam) e génios, as pessoas que admirava imensamente. E atribuía à inteligência um mérito que não era real. Porque a inteligência é como a beleza física: Deus dá-nos essa graça ao nascer. O resto vem com o trabalho, etc. Por isso, ao lado da inteligência e da beleza, que são coisas dadas, valorizo a generosidade, a solidariedade, a lealdade. E depois há outra qualidade que sempre teve importância, mas agora ainda mais: o sentido de humor. Não sou capaz de me dar bem com alguém que não tem sentido de humor. Gosto de me divertir, de me rir, e gosto de pessoas que não se tomem demasiado a sério.
O sentido de humor é a forma mais requintada de inteligência.
Se calhar. E de civilização.
Procurou ajuda?
Recusei-me a ir a um psiquiatra, por machismo, e provavelmente deveria ter ido, embora não sei se me teria feito bem ou mal. Pessoas que conheço e que foram não vieram famosas.
E a um psicanalista? Nunca experimentou?
Nunca. Isso é do domínio da bruxaria. Não preciso. Eu escrevo diários quando estou muito deprimida. Ou então falo com um ou dois amigos, eles que me aturem, e é de graça. (risos) Mas voltando à felicidade, é difícil saber se alguém é feliz ou não. Depende das expectativas. Se nós sonhamos ser uma cantora lírica tão boa como a Callas, então vamos ser infelizes. Se sonhamos ter coisas que estão perto do nosso destino social, é relativamente fácil ser feliz. É por isso que as filosofias orientais, ao convencerem as pessoas a não esperarem demais, dão uma enorme serenidade. Eu conheço pessoas muito perto de mim, que tiveram tragédias, e eu espanto-me porque elas são relativamente felizes. E são-no por falta de ambição. A falta de ambição está na base da felicidade.
Procurou ajuda?
Recusei-me a ir a um psiquiatra, por machismo, e provavelmente deveria ter ido, embora não sei se me teria feito bem ou mal. Pessoas que conheço e que foram não vieram famosas.
E a um psicanalista? Nunca experimentou?
Nunca. Isso é do domínio da bruxaria. Não preciso. Eu escrevo diários quando estou muito deprimida. Ou então falo com um ou dois amigos, eles que me aturem, e é de graça. (risos) Mas voltando à felicidade, é difícil saber se alguém é feliz ou não. Depende das expectativas. Se nós sonhamos ser uma cantora lírica tão boa como a Callas, então vamos ser infelizes. Se sonhamos ter coisas que estão perto do nosso destino social, é relativamente fácil ser feliz. É por isso que as filosofias orientais, ao convencerem as pessoas a não esperarem demais, dão uma enorme serenidade. Eu conheço pessoas muito perto de mim, que tiveram tragédias, e eu espanto-me porque elas são relativamente felizes. E são-no por falta de ambição. A falta de ambição está na base da felicidade.
Maria Filomena Mónica
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Revelador.
Esta desocupação de tempo que é andar de peito aberto à espera das horas, leva-me a concluir que apesar do bafiento calor que o universo teima em tornar metereológico, existe um intervalo, ao lanche, em que é possível coser a costura e voltar ao lugar de partida, de mansinho, às escondidas e sem esperar nada dos próprios órgãos. Se isto não é meio passo para me converter a uma coisa superior, não sei o que será.
domingo, 8 de agosto de 2010
Estou determinada a levar a cabo a minha singela reentré no meu próprio mundo.
Que é como quem diz:
(lista a completar)
I - Agosto. 2010
- Não colocar problemas onde não existem problemas;
- Não questionar as coisas que existem dentro de mim a partir do universo exterior (é má táctica e não traz nada de novo);
- Chorar menos (consequência esperada de não questionar e não colocar problemas);
- Conseguir encontrar as coisas dentro da minha mala, sem sentir uma fúria profunda sobre a humanidade;
- Ler livros que tenho adiado porque ando demasiado preocupada em pensar nos problemas que coloco sobre as coisas que questiono;
- Ver paisagem para lá daquela onde tenho existido até hoje;
- Não querer esperar sempre coisas para me impedir de as viver;
- Perder coisas (deixar partes de mim para trás). Partes que não preciso, mas que me acompanham como acompanha o comprimento do cabelo as raparigas que nunca o soltaram;
- Comer peixe e fruta;
- Deixar de beber ice-tea de pêssego
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