Há dias em que me sinto profundamente só. Hoje é um deles. Só com as minhas pessoas, só com o meu corpo, com o corpo dos outros, com as palavras que escrevo, que leio, com as músicas que ouço, com as notícias dos jornais, com a minha roupa, com o meu calendário, com o meu jantar, com o não sei da minha amiga, com as certezas que lhe debito, ao telefone, sem saber muito bem se acredito naquilo para mim, para a minha salvação, mas que disserto de forma colocada e profunda sobre os seus ouvidos. Só, com as histórias que ouço na rua, com os dois filmes que comprei, com os anúncios da redbull, com os planos, com a lembrança das certezas, com o presente, com o futuro, com o tempo, com o meu riso, com a felicidade, com a segurança. Hoje, não sinto absolutamente ninguém comigo. Ao pé de mim. E esta ausência não se liga a nenhuma espécie de falta de presença, vai mais além. Chega a uma plataforma que eu sei que não é totalmente real porque terei sempre alguns olhos sobre os meus gestos, sobre as minhas palavras, mas que existe, como um sinal de nascença. O instinto para o outro, para proteger o outro, é a única coisa que, na maioria das vezes, se sobrepõe a este sentimento. E não é fácil eu sentir o impulso a abrir os braços sobre o outro.
E vejo-os, a todos os outros, ao longe, todos juntos, com algumas pessoas que são deles e eu não consigo rever-me em ninguém, em lado nenhum, não me sinto pertencer a nenhum contexto, não sou inteiramente de parte nenhuma de ninguém que conheça. Isto tudo para dizer que na prática, também não teria nada para lhes dizer, mesmo que me apetecesse queixar-me.
Há dias em que toda a gente me mata, quando me fala.
Há dias em que toda a gente me mata, quando me fala.
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