quinta-feira, 12 de agosto de 2010

cicatriz


Voltando aos homens bonitos: como é possível gostar tanto da beleza masculina e escrever um texto elogioso sobre o “Dr. House”?

Mas ele é lindíssimo.

E coxo, minha senhora.

E depois?

E isso não o macula?

Não. Dá-lhe um atractivo duplo. É um ser perfeito que tem uma cicatriz. Em alguém tão forte, aquilo que é interessante é o calcanhar de Aquiles. Eu acho o Hugh Laurie um homem muito bonito.

Então quais são as qualidades essenciais num homem e numa mulher?

As qualidades que me atraem em ambos são parecidas. E, com a idade, eu valorizo menos a beleza física, por razões óbvias. As pessoas envelhecem, ficam diferentes. E também aprecio menos a inteligência do que apreciava. Eu era uma snob intelectual horrível. Durante anos dividia a Humanidade em atrasados mentais (que eram 99% das pessoas que me rodeavam) e génios, as pessoas que admirava imensamente. E atribuía à inteligência um mérito que não era real. Porque a inteligência é como a beleza física: Deus dá-nos essa graça ao nascer. O resto vem com o trabalho, etc. Por isso, ao lado da inteligência e da beleza, que são coisas dadas, valorizo a generosidade, a solidariedade, a lealdade. E depois há outra qualidade que sempre teve importância, mas agora ainda mais: o sentido de humor. Não sou capaz de me dar bem com alguém que não tem sentido de humor. Gosto de me divertir, de me rir, e gosto de pessoas que não se tomem demasiado a sério.

O sentido de humor é a forma mais requintada de inteligência.

Se calhar. E de civilização.

Procurou ajuda?



Recusei-me a ir a um psiquiatra, por machismo, e provavelmente deveria ter ido, embora não sei se me teria feito bem ou mal. Pessoas que conheço e que foram não vieram famosas.


E a um psicanalista? Nunca experimentou?


Nunca. Isso é do domínio da bruxaria. Não preciso. Eu escrevo diários quando estou muito deprimida. Ou então falo com um ou dois amigos, eles que me aturem, e é de graça. (risos) Mas voltando à felicidade, é difícil saber se alguém é feliz ou não. Depende das expectativas. Se nós sonhamos ser uma cantora lírica tão boa como a Callas, então vamos ser infelizes. Se sonhamos ter coisas que estão perto do nosso destino social, é relativamente fácil ser feliz. É por isso que as filosofias orientais, ao convencerem as pessoas a não esperarem demais, dão uma enorme serenidade. Eu conheço pessoas muito perto de mim, que tiveram tragédias, e eu espanto-me porque elas são relativamente felizes. E são-no por falta de ambição. A falta de ambição está na base da felicidade.

 

Maria Filomena Mónica

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