segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Estou cansada de pintar as unhas, de esperar o verniz secar, de reparar, no meio da rua, que tenho o bolso das calças rasgado, de não conseguir respirar fundo, de me arderem os olhos, no dia a seguir a tê-los pintado, de ter de prender a franja dos lados, com dois ganchos, de querer tê-la comprida, quando a corto e querer cortá-la, quando a deixo crescer, de me escorregar o saco dos ombros, cada vez que corro para atravessar a rua, de me pisarem quando vou a sair por uma porta, de ter de sorrir de soslaio a quem não me diz nada, de achar que começo a ver tudo como os outros, de começar a não sentir as coisas, as minhas coisas, as coisas para mim, de começar a ver longe, o sentido do que um dia esteve perto, de achar isto errado e conseguir pensar que posso estar muito bem e não notar, de pensar em mim numa casa e ter medo de lá estar sozinha, de que me achem difícil quando sempre fui, aos olhos de quem me vê bem, fácil, de comer sempre a mesma coisa e sentir sempre fome sobre o mesmo, de entrar de manhã num sitio onde não faço nada e ficar especada a olhar para um ecrã ou para os cantos de uma sala, de ninguém me dizer, vamos ser isto ou mais ou menos e isso ser para mais ou para menos, aquilo que me consola e me assegura um lugar, de andar sem saber o que os outros querem de mim e se, não sendo o que já quiseram de mim, ter tempo de me calar e ficar sozinha.

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