domingo, 28 de agosto de 2011

CÁRIE DENTÁRIA EM PARIS


Alguma coisa em mim me corrói

Fumo demasiado
Bebo demasiado

Morro demasiado lentamente

H. Muller



sexta-feira, 26 de agosto de 2011

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Recoil

Who wouldn't want a good girl, a soft hand,
A gentle woman for a gentleman?
He said, "It's been fine so far but after a while
I want more than a soft style.
I want some slashes
To go with those long eyelashes."
And so the bedroom became the black room

But a year later he wanted something more,
Something I wasn't quite prepared for.
He said, "Every woman has an itch
And every nice girl secretly wants to switch."

"I like how the skins look on your white hands.
I'd like you to deliver one of my demands."
He said, "Every woman has an itch
And every nice girl wants to switch."

He led me in and lit the room with a hundred candles
And said "God never gives you more than you can handle."


I sat astride his chest, "It's just a thrill," he said,
As he relaxed on the dark, dark bed, "it's just breath control."
He whispered "Hold me here" and I did and his head fell back.
He whispered "Press harder" and I did and his eyes rolled back.
It's just breath control. Just breath control.

I saw him go pale. I saw him seize up,
I felt something creep up like a taste for this.
Like a reward.
A kind of love,
A kind of lustmord.
It was a minute then three then five then ten,
He wasn't coming up again.
I held on for twelve.

I saw him seize and thrash and twist
And when he was still, I lifted away my wrists
And looked at my hands
And tried to understand.



"It's just a thrill" I said
As he relaxed on the dark, dark bed.
I sat aside his chest,
"It's just a thrill," he said,
"just a thrill. It's just breath control."


When it was over, I slipped off the skins
And drowned them in the river where we used to swim
And a year later in a shop, I was stopped by a man.

He said, "I know you're looking for something that's hard to find
And I think I have what you have in mind."
And he led me to a glass case
And looked deep into my face...

"It's just... control."



quinta-feira, 11 de agosto de 2011

De facto, Ana, esta cena é demolidora.



I guess I could be pretty pissed off about what happened to me... but it's hard to stay mad, when there's so much beauty in the world. Sometimes I feel like I'm seeing it all at once, and it's too much, my heart fills up like a balloon that's about to burst... And then I remember to relax, and stop trying to hold on to it, and then it flows through me like rain and I can't feel anything but gratitude for every single moment of my stupid little life... You have no idea what I'm talking about, I'm sure. But don't worry... you will someday.





« as pessoas tipicamente burras, não são incomodadas por questões »

A televisão serve para estas coisas. Convencer-nos de que, acima de todas as dores, o que existe mesmo e apenas, é um cérebro a fervilhar literatura russa, a toda a hora, a toda a hora, a toda a hora.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

« A ficção redime-nos »

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Não gosto quando me tratam por «menina» nos cafés. Não gosto quando meninas, mais novas do que eu, me tratam por «menina». Faz-me sofrer duplamente. Primeiro, porque fico enternecida com a delicadeza feminina e porque vislumbro, no olhar delas, uma certa contemplação clássica sobre o meu perfil purificado, de jovem inocente, feliz e realizada. Depois, porque o sinto, ao mesmo tempo, como se contendo um desdém sobre a minha experiência, uma experiência que sobrevoa a vida com asas feitas de tule. Umas asas de faz de conta. Acontece assim: elas dizem «menina» e dentro disto, existe também um enorme jogo de bofetadas que me dão e em que cada uma delas representa uma forma de me fazer ver como a vida das «meninas» que elas são surge marcada pelo tempo, pela sedução, pelo esforço, pela decepção. E sinto que todo este embrutecimento latente numa só expressão, excede em anos, todas as minhas certezas e agride, com alguma profundidade, tudo aquilo que penso sobre mim.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

não sou uma pessoa corajosa nas pequenas coisas. É curioso.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Spend her life inside, she thinks she isn`t blessed

« Toc, toc, tens um passarinho na cabeça. Toc, toc, não pára de te dar bicadas, quer que lhe dês comida argentina. Toc, toc »


Reconheci que nunca iria escrever. Memórias. Sempre estranhei que, no meio de tanta publicação mundial, se escrevessem memórias. Para que serve assumir aquilo em que estamos, aquilo que fomos, o que achamos daquilo que fizemos? De qualquer forma, resolvi, ao assumir a impossibilidade, tentar fazê-lo. Há quem pense muito no processo das coisas. Eu não sou assim. Não entendo percursos, estratégias, caminhos. Só me dá para pensar naquilo que a probabilidade me traz como acontecimento meu, para mim: isto está aqui, existe, eu vivo, deixo de viver, ouço, vejo, toco. Para além disto, nada me basta o suficiente para me fazer pensar. Não sei ser a rapariga de alternativas que o desejo social exige. Porque não o desejo. Não o desejo particularmente. Não saberia reproduzir uma marylin. Torna-se incompreensível para mim, reproduizr.

As pessoas vivem, na sua maioria, como citações umas das outras. Casam com a citação de si, naquele momento. Envelhecem a pensar que encontram um novo corpo-pensamento, e em citação, amam de novo outra forma de pensar. Vejo muitos aviões a passar, durante o dia, dentro da sala. Vejo aviões e muitas pessoas. Não acho especialmente nada. Nem sobre os aviões, nem sobre as pessoas. Olho pela janela e penso que é uma das poucas cenas em que consigo não duvidar de tudo. Gente com os pés sobre o chão e gente a voar sobre a minha cabeça. Passa sempre o mesmo carro com uma mulher lá dentro, de cada vez que olho. Penso em canetas. Canetas que escrevam bem, de tinta azul, que me tornem a letra perfeita. A minha letra, foi decisão minha. Um dia, olhei para o caderno da Mariana, a rapariga que se sentava ao meu lado nas aulas do secundário e decidi que a minha letra, por achar a dela belíssima, seria igual. Hoje, tenho a letra exactamente como a da Mariana. É tão bonita, quando escrevo bem, devagar e com uma boa caneta, que me emociono, de cada vez que completo uma linha, com uma frase qualquer.

Estou o dia inteiro dentro de uma sala castanha. Duas mesas castanhas, muito largas, carpete cinzenta, cadeiras forradas a laranja e o mais triste dos armários. Um guardador metálico onde repousa, sem funcionar muito bem, uma chave de plástico preta. Se ao menos a chave trancasse tudo. Se eu pudesse dar voltas à chave e trancar, durante o dia, tudo o que guardei nos primeiros meses, dentro do armário. Mas não. Tudo se encontra por arquivar, porque nada é meu. É uma sala realmente feia. E eu penso que esta sala me estava determinada. Que este espaço dependia já do meu corpo para existir, para ter uma finalidade, uma função. Para ser.

Sei que dizem coisas de mim. Em todo o lado se criam pequenos segredos sobre a minha presença. O que penso, o que farei com o tempo, como gosto dos outros, se o meu corpo é na realidade, despido, como parece ser. Crio mistérios do lado de cá. Às vezes, faço um grande esforço pelos outros. Duvido que eles percebam, mas isso torna-me melhor porque, nesses instantes, consigo ultrapassar-me, o que se está a tornar, realmente, um objectivo engraçado. Eu tenho muita força, não é fácil conseguir pôr-me em cima de mim. Coloco um corpo acima da cabeça, dois dos lados e um por baixo da terra, um corpo subterâneo que me suporte os pés. Todos eles exercem uma pressão ideal sobre o meu espaço que me conduz ao silêncio. Nesses momentos, fixo uma ponto angustiante dentro de mim. Pode ser um órgão, o fluxo do sangue nas veias, a curvatura da coluna quando me dobro, o sonho que tive na infância, qualquer coisa que possa dizer a alguém, uma esperança, a dor no peito de há um ano atrás, o sentimento sobre a imagem do nariz de um cão, um medo, um tique, o sabor da pastilha elástica. Há muitos pontos de salvação orgânica. Até esvaziar as possibilidades, consigo evitar mais algumas palavras. E se realmente existir, pelo menos, uma pessoa no mundo que não seja compreendida por ninguém? A natureza existe?

Pensar mais em objectos do que em pessoas, sobre a instrumentalidade do que possuo, permite-me sentir algumas coisas de uma forma diferente. Sabes em que penso muito? Em como ficava bem uma mesa de madeira, pequena e com o tampo assimétrico, encostada ao braço esquerdo do teu sofá. Pensar nisso, traz-me uma espécie de felicidade fora do ângulo do que vivo. Uma felicidade de ébano. Hoje está um dia de Inverno. Gostava de não temer o Natal, a chuva, o tempo escuro. Esperava que isso não fosse tão determinante na forma como me acho ao espelho.

« Digamos que o mundo é uma figura, há que lê-la ».