segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Não gosto quando me tratam por «menina» nos cafés. Não gosto quando meninas, mais novas do que eu, me tratam por «menina». Faz-me sofrer duplamente. Primeiro, porque fico enternecida com a delicadeza feminina e porque vislumbro, no olhar delas, uma certa contemplação clássica sobre o meu perfil purificado, de jovem inocente, feliz e realizada. Depois, porque o sinto, ao mesmo tempo, como se contendo um desdém sobre a minha experiência, uma experiência que sobrevoa a vida com asas feitas de tule. Umas asas de faz de conta. Acontece assim: elas dizem «menina» e dentro disto, existe também um enorme jogo de bofetadas que me dão e em que cada uma delas representa uma forma de me fazer ver como a vida das «meninas» que elas são surge marcada pelo tempo, pela sedução, pelo esforço, pela decepção. E sinto que todo este embrutecimento latente numa só expressão, excede em anos, todas as minhas certezas e agride, com alguma profundidade, tudo aquilo que penso sobre mim.

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