terça-feira, 6 de julho de 2010

Estuda a natureza,
ama a natureza,
mantém-te próximo da natureza.
Ela nunca te falhará.
Frank Lloyd Wright

Hoje acordei de noite a pensar no filme La teta assustada e a propósito da crença do medo que vem do leite, lembrei-me de uma história que a minha mãe dizia contar-se no alentejo, sobre a filha que a lua perdeu. Ela dizia-me: quando nasceste, entreguei-te à lua, para te proteger. E foi o único baptismo que recebi. Eu não entendia bem o que isso queria dizer, mas olhava sempre para o céu com uma certa cumplicidade e imaginava uma criança num umbral, que seria eu, a receber a luz da lua. E essa imagem foi permanencendo durante muitos anos, até que me foi contada a versão "oficial".
Reza a história que por ali, para justificar as mortes prematuras na infância, se dizia que a lua perdera uma filha mulher e que por isso, perseguia todas as crianças nascidas raparigas, à procura do rosto da filha. Assim, na aldeia, as mulheres tapavam o rosto às crianças, quando saíam, de noite, à rua. Quando a lua procurava, mas não encontrava o rosto pretendido, a criança sucumbia. Seria portanto, benéfico, que a mãe se antecipasse ao astro, mostrando com abnegação, o rosto do bebé à luz da lua, para que esta entendesse não se tratar da filha perdida e a protegesse, ao invés de a castigar. Tal como o medo que passa através do leite materno de Fausta. E esta é a única forma de fé que faz sentido. Aquela que se constrói, para justificar o que de imperfeito a natureza tem (terá?) e não a que procura encontrar aquilo que não deve ser procurado, como deus.

Nota a esta pequena incursão pelo realismo mágico: só é pena que a lua não meta cunha no que diz respeito aos concursos públicos e afins trapalhadas. Também se diz que ela é mentirosa. Que quando está aparentemente a crescer (em forma de C) está a minguar e quando está a descrescer (em forma de D), está a ficar cheia. Nada mais terreno do que ter uma madrinha aldrabona. Parece-me muito apropriado a uma senhora que também se eclipsa de vez em quando.

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