quarta-feira, 9 de junho de 2010

Ou como isto podia bem ser Júlio Machado Vaz.

[...] A situação é a mesma desde o início: a comunicação apenas se estabelece sobre um fundo de falta e de mal-entendido e as relações entre as personagens sofrem de uma lacuna: o leitor não tem bem a certeza de entender o autor, o piloto faz chorar o pricipezinho, este não entende as palavras da flor. Cada personagem encontra-se numa situação ameaçada, angustiante, insustentável. E a falta manifesta-se primeiro por uma crise da comunicação que abala a totalidade das relações entre os dois parceiros - a cada nível da narração -, arriscando-se a fazê-la explodir. Totalidade frágil portanto: nada é seguro, a ligação que sustenta a relação entre as personagens corre a cada instante o risco de se desagregar: o leitor pode recusar o seu estatuto de Leitor priviligiado, não entrar no jogo subtil montado pelo autor e abandonar a leitura (Plano A); o piloto está prestes a romper com o principezinho a propósito de um história de ovelhas e flores (Plano B); enfim, as primeiras trocas entre a flor e o principezinho são de tal modo desastrosas que ele decide deixar o seu planeta [...]

Os embondeiros e a morte
A profundidade e a superfície, ensaio sobre o principezinho
José Gil

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