Regressava hoje a casa, quando uma mulher preta me trouxe ao pensamento, um grande amor. Um grande amor dela. A mulher preta encostava-se ao parapeito do café e fazia-se acompanhar por um homem feio e velho. A mulher era, também ela, mal cuidada e feia. De origem, era uma mulher feia. Tinha um copo de cerveja na mão e a sombra da pele não escondia a irregularidade da idade. As mulheres não são felizes sempre que procuram um homem. As mulheres são felizes, sempre que esperam amar. Aquela preta estava ali a querer amar, com um copo de cerveja na mão e um homem velho e feio, a seu lado. Mas os olhos dela, estavam dentro de uma história. Quando me cruzei com os seus olhos, qualquer coisa naquela cabeça se prostituía sobre o tempo e sobre as pessoas. Diziam os olhos dela, que estava muito além daquilo, daquele estar encostado em corpo. Todas as mulheres trazem nos olhos o desejo de um grande amor. Quando uma mulher entra dentro do seu quarto, pensa no homem que procura, no homem que desenharia, que cantaria, que teria parido, se possível fosse, para si.
Algumas outras Elas (1999-2010)
Ana Maria, Raquel, Margarida, Sónia, Sheila, Cristina, Fátima, Carla, Pilar, Iliana, Laura, Catarina, Natália, Vera, Manuela, Gisela, Adelaide, Regina, Margarida.

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