domingo, 26 de setembro de 2010

Corona


O outono come sua folha na minha mão: somos amigos.
Das nozes, descascamos o tempo e lhe ensinamos os passos:
e o tempo retorna à casca.

É domingo no espelho,
no sono há vez para o sonho,
a boca fala verdade.

Meu olho desce para o sexo da que amo:
nos entreolhamos,
trocamos palavras escuras,
nos amamos como papoula e memória,
dormimos como vinho em conchas,
como o mar no raio de sangue da lua.

Ficamos à janela abraçados e, da rua, os passantes
nos vêem:
é tempo eles sabem!
Tempo da pedra esforçar-se e florar,
tempo do desassossego ter um pulso.
É tempo, que seja tempo.

É tempo.

Paul Celan

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