segunda-feira, 12 de julho de 2010

Small rape
P.R.


A Paula Rego é uma tipa genial. Não percebendo eu, nada de pintura, e tendo já ouvido da boca de malta que sabe da coisa, que ela não é assim nada de especial, mas que sabe desenhar, sabe, continuo a achá-la genial. Ainda para mais, os especialistas nas coisas são uns chatos que destróiem tudo. Os tipos do cinema, descobrem a química do amor e expoem-na de mil formas ardilosas para acharmos - nós, os tipos que entendemos da coisa, porque a provamos sem talheres - que afinal, existe uma compreensão técnica necessária à compreensão psicológica, que não precisa de mais roteiro que o de dois pés assentes sobre o chão. Com a pintura, não me atrevo a ir tão longe mas naturalmente, se gosto de uma coisa (saltando o facto de achar que a devo sempre destruir), defendo-a. E eu gosto da Paula Rego. Gosto principalmente da forma como ela levanta as saias às mulheres, desprotegendo-lhe os joelhos, desnudando-as da obrigação do corpo sedutor e marcando-o simultaneamente, como objecto rude de sofrimento e prazer.

Se ela não faz nada de mais com o pincel, faz com a boca, porque é muito engraçada, diz coisas geniais, porque me faz rir e porque sempre achei que o sentido de humor numa pessoa, revela a inteligência do seu olhar sobre as coisas, sobre o mundo. Depois do Seinfeld e do Sai de baixo (o antigo) e de um ou dois episódios sociais imprevistos, não me lembro de chorar nunca até às lágrimas como aconteceu com a entrevista que a Paula Rego deu à tótó da Ana Sousa Dias na tv2, há uns anos atrás. E não é por não ir muito à bola com a Sousa Dias (que não vou), mas é porque acho sempre genial quando os detentores dos rótulos, destroem os símbolos que os criam.
Hoje, no DN, ela diz coisas e eu rio-me, porque a tipa faz tropeçar meio mundo na própria soberba e faz cair pedestáis, com as respostas mais imprevisíveis e infantis. Parece-me que também o jornalista, na patetice da formaulação das questões, também esteve muito bem..
Ora, diz ela:

- A Paula é feliz?
Não.

- Porque não?
A minha barriga. Sofro disso...Quando me sinto melhor - o diabo seja cego, surdo e mudo [bate na madeira] , é quando estou a desenhar. Ao fim de um dia de trabalho de desenho, sinto-me normal e bem. Mas feliz?... Gosto muito, muito de trabalhar, de fazer gravuras e essa coisa toda. Ai disso gosto!

- Gosta muito de trabalhar porque esquece o Diabo e as maldades todas?
Não esqueço nada, eu estou a fazê-lo! Estou a fazer coisas de que tenho medo.

- Um dia destes tem de mandar fazer um bruxedo para eliminar esses medos todos...
Não gosto nada dessas rezas, ainda faz pior! O melhor é fazer bonecos!

- O seu universo é muito feminino, não há muitos homens.
Há o que arranjo! Não é assim muito fácil arranjar homens para pôr muito tempo quietos e também não sou capaz de fazer homens...

- Mas nesta exposição há poucos homens.
Há os que violam.

-A sua relação com o sexo masculino é um pouco complexa?
O que sabe!?

- Não sei, pergunto.
Complexa como? Eu sou viúva!

- Não tem ambiente? [a propósito de pintar em Portugal]
Não é isso, é difícil porque o meu estúdio não é muito bom. Então, trago para Londres as histórias, as fatos que eram da minha avó e da minha mãe, as bonecas, so penicos, até aqueles clisteres que se dava antigamente - também trouxe um lá de casa. Isso é que eu depois ponho nos quadros cá. Em Portugal, há os livros com aqueles contos todo e é lá que faço as histórias.

- Os corpos dos jogadores são bons modelos? Como o do Ronaldo?
Eu gosto mais dos antigos, porque são pessoas mais a sério. O Valadas tinha um corpo fantástico, era enorme, grande a alto.








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