segunda-feira, 12 de julho de 2010

[...] Ela olhou a extravagância, visivelmente constrangida, mas não hesitou. Acariciando as pernas, fez escorregar o olho sobre elas. A carícia do olho sobre a pele é de uma doçura excessiva... e produz um horrível som, como um grito de galo [...]

História do olho
B.
Os meus "colegas" acham "estranho" que eu tenha passado a almoçar no centro da vila, em vez de continuar a almoçar com eles na cantina. Não percebo o que possa existir de estranho no facto de estar farta de comer com eles na cantina. Uma pessoa que gosta de outras pessoas, faz um esforço. Eu ando a fazer cada vez mais esforço pelos outros, por mim, para me dar mais e melhor, para gostar de toda a gente, para ao menos achar, se não consigo gostar, que são pessoas "porreiras", mas a verdade é que em mim, a percentagem diabólica é muito mais elevada do que a de pacifista. A verdade é que eu prefiro um muro a um colchão, um bosque, a um apartamento. E ainda que por vezes me veja obrigada a censurar a faceta maldita, para assumir a de boa rapariga, deus é testemunha que nos meus pensamentos mais íntimos, eu chego a zonas perigosas. Agora, assim de repente, parece-me que já estava a falar de outras coisas. Mas mal ou bem, eu faço um esforço por ver no outro, com o meu olho surrealista, um igual. Mas há alturas, em que simplesmente não consigo não provocar os outros, pelo simples facto de serem de ciências. E qualquer risinho, insinuação, explicação mais rigorosa sobre a origem da comichão no nariz, originada pelo espirro, faz-me revirar os olhos e encarnar uma certa Ana, que não vem de cima da nuvem, mas debaixo da terra. E eu, que sempre tive uma grande atracção por subterrâneos, não tenho filtro para nivelar a minha expressão corporal. Sou muito transparente no que diz respeito a prazer, dor,  alegria, tristeza, quando me encontro na versão diabólica. Sou muito opaca no que diz respeito a sensações, quando a Ana que actua, é a que cai de cima da nuvem. Torno-me absolutamente imperturbável. Isto leva-me a considerar que para os outros conseguirem nutrir por mim, um amor incondicional, têm de começar por me odiar. É uma espécie de iniciação ao masoquismo. E isto tem tudo a ver com o facto de eu ser uma pessoa simples.

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