quinta-feira, 15 de julho de 2010

Depois do silêncio, a agitação.
Entregar um poema erótico a alguém é um acto de fé.
Nunca me entregaram um poema erótico. É uma das coisas de que tenho pena. Em contrapartida, tenho poemas sobre olhos e córneas e desenhos de olhos. Não percebo bem porquê, mas entregam-me sempre a visão.
Preferia um poema erótico a um poema de amor. Porque o erotismo é mais forte e é mais difícil escolher um poema erótico para alguém, do que um poema apaixonado, porque reconhecer o que o corpo do outro nos faz é mais profundo do que pensar no que o coração do outro nos diz.
E agora não me apetece escrever mais.
A última coisa que me apetece dizer, é que sempre gostei da palavra gozo.

Sugar e ser sugado pelo amor
no mesmo instante boca milvalente
o corpo dois em um o gozo pleno
Que não pertence a mim nem te pertence
um gozo de fusão difusa transfusão
o lamber o chupar o ser chupado
no mesmo espasmo
é tudo boca boca boca boca
sessenta e nove vezes boquilíngua.

Drummond de Andrade

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