terça-feira, 16 de março de 2010

A dois


Pressa de infância. Correr atrás do rabo do cão. Joyce. Rabo negro em corpo branco e manchado. Comer a correr para virar a esquina. Atravessar dois mundos à hora de jantar. Brincar na curva e medo de lá chegar. Uma louva-a-deus nas minhas mãos. Presa de infância. Espreitar aquele filme. O «Homem invisível». O susto a entalar as mãos. Acordar eu e a panela de pressão. A luz laranja e falsa da cortina que não finge. Cor-de-laranja. Cortina e luz. O cubo mágico e o sofá verde. Horas de lógica e batota. Correr com as mãos agarradas à ponta da corda e cair. Bolos de gila a seguir. Descobrir a gila. A gila. Pôr-do-Sol sentada em cima do poço. A pele fria. A mesma luz do cortinado. Laranja. O maior Sol da minha vida. O maior Sol da vida. Encher o colo de pequenos cães. Fotografia e covas no sorriso da cara de vestido cor-de-rosa. Torneira e jarro branco. Enchê-lo já não lembro para quê. Homem-tio. Dois bidons encostados à parede. Espreito com esforço. Há água. Cabia lá dentro. Caramachão. Formigas e sombra das tábuas de madeira da cabana. Árvore estranha de pequenas bagas pretas. Hora de caiar. Hora de pintar. Vontade de morder a cal e achar-lhe qualquer coisa de açucar. A queda da mancha negra. Aos meus olhos, a minha avó era uma mancha negra. Estar triste às três da tarde, na sombra da casa. Cadeira de verga pequena e vermelha. Sesta. A primeira coruja. Dispensa e cheiro a dispensa dentro dela. Caixa roxa de bolos alguns degraus acima de mim. Olhar para cima. Ferraduras e erva doce. Latas de tinta, pincéis sujos. Dispensa a brincar faz de casa. A cadela negra. O filho da cadela negra. Calor. Terra faz de mousse. Bolor. Portadas de madeira. Hora de esconder a luz e a luz de manhã. Abrir a janela e procurá-la. Ouvi-la conversar. Sossegar de volta na cama. Sozinha. Giz no parapeito. Laca. Mão dada. Prima Ermelinda. Gelados Caseiros. Vizinho Marta. Sim, vizinhO. Ouvi-lo ressonar. Fugir a rir.  Nuca. Pêlo cor-de-mel. Filhos da Nuca. Ladrar. Kit à chegada. Brázia. Pupias. Mocambo. Oleado. TV espanhola. Janela do quarto do fundo. Ovo pintado. Fitas da porta que fingem cabelos. Misericórdia. Roda gigante. Jorge. Avó do Jorge. Ana Margarida, anos mais tarde. A veia do mal. D. Angelina. Vizinha Maria. Queda. Início.

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