Há-de flutuar uma cidade
pensava eu... como seriam felizes as mulheres
à beira mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado
por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos... sem ninguém
e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão
(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)
um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade"
Quando «conheci» o Al berto, um ou dois meses antes de lhe saber a morte e poucos dias antes dos meus 17 anos, pensei que um dia, alguns anos depois, faria qualquer coisa sobre a cidade. Andava no liceu e, bem ou mal, pensando pouco nisso, depositando nenhuma ambição e nenhuma lógica nesse projecto académico de 4 anos, sabia bem que faria um curso. Quando o acabei, alguns anos depois, pensei que faria qualquer coisa sobre a memória. Pois também nada fiz.
Agora penso, que bom seria, um dia, um dia qualquer, fazer uma coisa com estes dois pensamentos.
Sempre me encantou a forma como permanentemente escrevia alastrava.
Sempre me encantou a forma como permanentemente escrevia alastrava.

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