Tendo em conta que anteontem sonhei que tinha três irmãs, o encontro fortuito com este neón, pareceu-me animado. Talvez tenha sido um negócio de família, noutro tempo.
Alice disse: «Isso ninguém pode adivinhar».
Os néons sempre me deram a volta à cabeça. Há uma memória que trago que não compreendo bem, porque me parece quase uma memória dentro de outra. Recordo-me de uma imagem que não aconteceu e de estar a recordar-me ali, dentro dela. Talvez tenha chegado dos filmes, das sessões da meia-noite. Regresso sempre a esta imagem, nunca a libertei e ela nunca se quis libertar de mim. Estou deitada numa cama que deixa ver metade do prédio da frente. Sempre ali, no mesmo quarto, que reconheço como sendo o meu, real. O néon está lá. Não consigo identificar as suas formas, apenas os reflexos que penetram no meu espaço e a oscilação do piscar, latente e quase cardíaco, sobre o chão. O conforto da imagem deveria justificar a memória com qualquer parágrafo psicanalítico, sobre grutas e zonas quentes e femininas, ventres de mãe e toda a panóplia literária que sempre encontra uma nesga desgarrada de ignorância, para se alapar em teorias. A verdade, é que são três memórias. Esta, de me lembrar das outras duas, uma dentro da outra, fecha um triângulo. Há coisas que gostava de saber, antes de saber sobre deus.

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