As duas palavras que são uma prece
Uma coisa sabes quando as dizes:
por toda a terra há gente a dizê-las contigo;
uma criança proferindo-as quando a apreensão a domina,
uma mulher recitando-as sobre um berço num hospital.
E se apanhares um táxi que vá por Tenderloin:
a uma luz vermelha, um homem com um gorro,
fios de lã desenredando-se ao longo do rosto, bate no vidro;
e diz, Por favor.
No momento em que ouves o que ele diz
a luz muda, o táxi afasta-se
e tu não voltas atrás, sabendo contudo
que alguém acabou de te suplicar tal como tu suplicas.
Por favor: duas palavras tão breves
que tanto se podem perder no ar
como flutuarem - como penas que são - até chegarem a Deus,
batendo e batendo, e finalmente
caindo na terra como chuva,
como pepitas de gelo, embebendo um ramo negro,
recolhendo-se nos esgotos, infiltrando-se no solo,
e tu caminhas com este tempo todos os dias.
Ellery Akers
quarta-feira, 30 de março de 2011
terça-feira, 29 de março de 2011
quinta-feira, 24 de março de 2011
International Man of Misery
Acho que sei de uma coisa. As pessoas matam-se, desejam desaparecer, porque já não sabem explicar nada. Não sabem explicar o bom, o mau, o útil, o excesso, a vergonha, o tempo, o que comem, o que vestem, o sorriso, o choro.
Deixam de ter formas de explicar o que sentem, deixam de existir gramáticas que contenham estruturas suficientes para suportar um conteúdo que já não tem forma. Se eu quisesse dizer porque estou triste, porque sou triste, porque ouço música triste, porque sempre senti tristeza sobre as coisas, não conseguia. Desistia. Se alguém me pergunta o porquê das coisas que sinto, que senti, eu não sei responder. Mas sei o que vou sentir. Já lá estou, antes de lhe chegar com a pele.
Quando há muita coisa para dizer, muita queixa para fazer, muita pena, muita dúvida, muita alegria, muita angústia, muito desejo, muito desespero, muita esperança, muita vontade de abraçar, muito medo, como é possível não ter nada para dizer?
A concentração diminui a capacidade de movimento.
Don`t you have a word to show what may be done
Have you never heard a way to find the sun
Tell me all that you may know
Show me what you have to show
Tell us all today
Tell us all today
Won`t you come and say
If you know the way to blue
Have you seen the land living by the breeze
Can you understand a light among the trees
Tell me all that you may know
The way to blue
Have you seen the land living by the breeze
Can you understand a light among the trees
Tell me all that you may know
The way to blue
Também já estive convencida que era o Nick Drake. 19 de Junho.
sábado, 19 de março de 2011
terça-feira, 8 de março de 2011
K-Pax
E se um dia ou uma noite um demónio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há-de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeira da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demónio que te falasse assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderias: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?"
Gaia Ciência.
N.
segunda-feira, 7 de março de 2011
Morrer de manhã
Há qualquer coisa na passagem do tempo, na marca da existência, que eu não sinto.
Estou intacta.
Estou intacta.
sábado, 5 de março de 2011
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